Mestrando do PPGEA, o haitiano Jacques Pierre desenvolve pesquisa voltada para comunidade rural de seu país
Por João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Ao falar do Haiti, muitos podem pensar apenas no subdesenvolvimento – é o país mais pobre das Américas – ou nas recentes tragédias naturais, como o devastador terremoto de 2010. Mas a nação caribenha possui grande potencial, especialmente na agricultura. Esta é a opinião de alguém que conhece a realidade local: o haitiano Jacques Fils Pierre, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola (PPGEA/UFRRJ). “Noventa por cento de nossa produção é agroecológica. Poderíamos exportar produtos orgânicos para o mundo inteiro. Hoje, não podemos competir com o agronegócio. Então, temos de dar prioridade para a agricultura sustentável”, afirma o estudante. Com o objetivo de desenvolver projetos com os agricultores de sua terra natal, Jacques Pierre é um dos organizadores do ‘I Fórum de Agricultura Familiar Brasil-Haiti-EUA’ (clique aqui para mais informações), evento internacional que vai promover debates e produzir um documento com recomendações ao Haiti.
Conte-nos um pouco de sua história.
Jacques Pierre – Nasci na cidade de Gonaïves, zona rural. Sou o caçula de onze filhos. Um time de futebol, né? (risos). Meu pai era agricultor familiar, mas nunca quis que os filhos seguissem esse caminho. Contudo, acabei me interessando pela área. Depois que eu terminei a escola secundária em Porto Príncipe [capital do Haiti], fui para a República Dominicana e me graduei em Engenharia Agronômica.
Por que veio fazer pós-graduação no Brasil?
J. P. – Eu não estava satisfeito só com a graduação. Queria ter mais conhecimentos e voltar com projetos para minha comunidade. Em 2015, decidi viajar para o Brasil. Primeiro, fiz pós-graduação em Gestão Ambiental na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2016, consegui passar para o Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola (PPGEA/UFRRJ), que era o que eu estava procurando.
Qual o tema de sua pesquisa?
J. P. – Minha dissertação investiga as características de um agricultor familiar no Haiti. Quero compreender a situação socioeconômica e as práticas produtivas. A partir dessas respostas, posso fazer propostas mais viáveis para a comunidade. Meu objetivo é voltar com um projeto de educação para os agricultores.
Como surgiu a ideia do ‘I Fórum de Agricultura Familiar Brasil-Haiti-EUA’?
J. P. – Surgiu a partir das respostas de minha dissertação. Descobri que o Haiti não tem, como o Brasil, uma legislação que trata da agricultura familiar. Pensei, então, em reunir especialistas de Brasil, Haiti e Estados Unidos (onde fiz um curso na Universidade de Kentucky). O objetivo é produzir um documento com recomendações básicas ao Haiti em termos de políticas públicas.
Já sofreu preconceito por ser negro, imigrante e haitiano?
J. P. – Eu tenho duas barreiras: primeiro, sou negro; segundo, sou haitiano. Mas, quando chego a um lugar, me dedico a fazer o meu trabalho, sem me preocupar com o que uma pessoa acha de mim. Isso é uma coisa que eu utilizo para poder crescer na vida. Em qualquer lugar que você chega, sim, tem preconceito. Mas isso não me afeta. Eu só trabalho com pessoas que me entendem. Não me relaciono com quem tem preconceito.
(Publicado originalmente no Rural Semanal 03/2018)