Infelizmente, ao iniciar o período letivo, nos confrontamos com a confirmação dos piores prognósticos elaborados ao longo do ano de 2017 sobre a situação do país e seus impactos na vida acadêmica.
Desde que o golpe de 2016 foi consumado, temos enfrentado agressões contra a autonomia universitária em várias frentes, afrontas ao setor público (particularmente nas áreas de saúde e educação) e ataques aos direitos previdenciários e trabalhistas. Presenciamos também atentados contra as liberdades e as conquistas da civilização democrática expressas na Constituição Federal, como a presunção da inocência e o direito ao habeas corpus, o que é ainda mais grave. A situação não para de se agravar.
Após cortes severos nos orçamentos das instituições de pesquisa e ensino superior, observamos ações policiais contra as universidades federais, incluindo até mesmo a prisão de reitores sem qualquer base legal. Acumulam-se os retrocessos no que diz respeito às perspectivas de desenvolvimento nacional, com a privatização de nossas riquezas, a destruição de nosso parque industrial e de serviços, com o inclemente aumento do desemprego, bem como o desmonte de políticas ambientais e de seguridade social. A própria democracia é colocada em risco, quando temos uma intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro.
Os covardes assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes provocam indignação e revolta a todos que lutam contra o avanço do estado de exceção. Em especial, da juventude mais humilde que almeja a construção de um país democrático e justo, no qual a cidadania possa se expressar livremente, sem ser penalizada com a morte de lideranças e ativistas.
A escalada autoritária e de desmonte nacional tem de ser interrompida. Não esperemos do Judiciário atitudes altivas na defesa do Estado de Direito, pois ele mesmo é protagonista de muitos desses retrocessos.
Cabe às universidades, que sempre ocuparam o campo da resistência democrática e da luta por conquistas sociais, se mobilizarem mais uma vez na defesa das garantias fundamentais da cidadania.
Nascida e criada no contexto adverso da favela da Maré, Marielle dedicou a vida, de forma destemida, à defesa dos direitos e da dignidade de todos os seres humanos.
Enfrentou as dificuldades que excluem a maioria dos moradores de comunidades pobres, especialmente as jovens mães, do acesso ao ensino superior. Frequentou pré-vestibular comunitário, graduação e mestrado, buscando na formação acadêmica ferramentas para dar voz às lutas de favelados, negros, mulheres e da população LGBT.
A universidade pública não irá se calar. Uma de nossas missões é formar milhares de Marielles, capazes de liderar o povo brasileiro na superação das profundas desigualdades sociais, que produzem a violência que se abate sobre todos nós.
Os assassinos do desenvolvimento nacional, da democracia e dos direitos humanos não triunfarão!
Editorial publicado na página 2 do Rural Semanal 02/2018.
Informativo disponível para download no link https://goo.gl/r5E5U9