Quem costuma frequentar feiras convencionais talvez não imagine a diversidade do popular tomate. Enquanto no mercado há poucas opções, o Departamento de Fitotecnia da UFRRJ, por exemplo, preserva uma coleção com mais 300 itens, com variedades muito diversas das encontradas normalmente. Um pouco desse acervo pôde ser conhecido durante a 1ª Degustação de Tomates Orgânicos da Rural, realizada em 25 de julho, no Instituto de Agronomia (IA).
O evento, idealizado pelo professor Antonio Carlos Abboud (IA/UFRRJ), teve participação de agricultores orgânicos locais, estudantes e outros convidados. Mas o público principal era formado por chefs de cozinha do Instituto Maniva, uma organização da sociedade civil voltada para o desenvolvimento da agricultura familiar agroecológica e melhoria da qualidade alimentar.
Os frutos de 35 variedades de tomateiro da coleção, plantados para esse fim, foram colhidos na estufa localizada no campo experimental do Departamento. Eles foram, então, levados a outro espaço para degustação e análise sensorial dos especialistas convidados. Com base em parâmetros científicos, eles julgaram a cor, o sabor e o grau de suculência, entre outros aspectos. Depois da avaliação, os ecochefs prepararam pratos e harmonizações, incluindo sobremesas em que os tomates eram os ingredientes de destaque.
A presidente do Instituto Maniva, Teresa Corção, encarou positivamente a parceria com a Rural:
– É muito bom poder contar com professores que têm os mesmos sonhos que a gente. Estamos fazendo um pedido de convênio com a Universidade. A ideia é trabalhar com os produtos cultivados aqui.
Agricultura familiar
Antes da degustação, os convidados ouviram explicações técnicas do professor Abboud, além de assistirem à palestra da pesquisadora Maria Luiza de Araújo, da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio). Com doutorado em melhoramento de tomate e produção de sementes, a especialista falou sobre a origem histórica da espécie, que surgiu na região do Peru, Equador e Bolívia. A domesticação e cultivo foram iniciados no México, com posterior desenvolvimento na Europa.
Uma das perguntas da plateia foi sobre as diferenças entre transgenia e melhoramento genético convencional. A doutora explicou que os produtos transgênicos incluem, em geral, genes de outras espécies, numa manipulação laboratorial complexa. Já o melhoramento genético convencional é feito por meio de cruzamentos entre plantas (polinização manual), com o objetivo de preservar determinadas características. Tal processo não contradiz os preceitos da produção orgânica.
A reitora da UFRRJ, professora Ana Dantas, também esteve presente. Ela ressaltou a importância da iniciativa:
– Eventos como esse são muito relevantes para nos mantermos unidos na luta em defesa do pequeno agricultor e dos princípios agroecológicos. Sobretudo num momento em que a agricultura familiar está muito ameaçada.
Diversidade
Há mais de 15 anos, um grupo de professores e estudantes do Departamento de Fitotecnia se dedica a produzir no sistema orgânico, mantendo plantas de variedades diferentes no mesmo ambiente, sem uso de agrotóxicos e voltados ao mercado local.
O setor possui variedades antigas de tomate – algumas mantidas desde o século 19 por gerações de produtores. A diversidade se traduz em frutos coloridos (amarelos, alaranjados, marrons, róseos, etc.); além de variados tamanhos (de 1 cm a 12 cm de diâmetro), pesos (5 a 500g) e formatos (cereja, perinhas, pitangas…).
A execução da 1ª Degustação de Tomates Orgânicos na UFRRJ ficou a cargo das graduandas de Agronomia Rita de Cassia Silva e Vivian Torres Bandeira Tupper, que semearam e cultivaram os tomateiros; do mestrando em Fitotecnia Carlos Antonio dos Santos; e dos professores Margarida Goréte F. do Carmo e Antonio Carlos Abboud, curadores da coleção.
Abboud disse que a estufa estará aberta à visitação nas próximas quatro ou cinco semanas, mediante agendamento pelo e-mail abboud.acs@gmail.com. O docente esclarece ainda que essa atividade de extensão terá outros desdobramentos:
– Haverá intercâmbio de sementes para agricultores, aproximação de consumidores aos produtores e divulgação de produtos alimentícios diferenciados, oriundos da nossa rica agrodiversidade.
Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)