Por Catarina Villar, estudante de Jornalismo da UFRRJ
Entre os dias 13 e 20 de janeiro de 2019, o projeto Formação Agroecológica para Jovens Cidadãos do Rio de Janeiro realizou seu último período de curso. Fruto da parceria entre UFRRJ e Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário do Rio de Janeiro (Sead), a iniciativa busca formar lideranças juvenis e incentivar sua permanência nas áreas rurais, mostrando que é possível gerar renda vivendo no campo.
“O meio rural sofre muito êxodo, principalmente de jovens. É necessário que cada vez mais essas pessoas sejam atraídas para a agricultura, que vem perdendo espaço no estado”, explicou o professor do Instituto de Agronomia (IA/UFRRJ), Antônio Carlos de Souza Abboud, coordenador geral do projeto. “Esses jovens sairão daqui sensibilizados de que é na agricultura, por meio da agroecologia, que eles vão conseguir um mundo melhor.”
O projeto chegou à Universidade através da Assessoria Especial de Uso Social da Terra, com a professora Lia Maria Teixeira de Oliveira. Abboud assumiu a coordenação, juntamente com a servidora Shirlene Barbosa. A formação atendeu jovens de quatro áreas: Baía da Ilha Grande, Baixada Fluminense, Região Norte e Região Serrana. O curso foi estruturado dentro da pedagogia da alternância, com três Tempos-Escola no câmpus Seropédica e dois Tempos-Comunidade nas respectivas localidades.
A construção do saber agroecológico
Durante o primeiro Tempo Escola, em janeiro de 2018, os jovens tiveram formações voltadas para a organização social, cooperativismo, sociativismo, políticas públicas, entre outras. No segundo, os jovens realizaram atividades mais técnicas, com foco na produção orgânica; Sistema Agroflorestal (SAF); produção animal; processamento e beneficiamento de alimentos; comercialização; construção do conhecimento agroecológico; cultura e meio ambiente. As aulas aconteceram na Fazendinha Agroecológica e na UFRRJ.
No período do Tempo Comunidade 2, os jovens formadores realizaram capacitação dentro da perspectiva da agroecologia com outros jovens de sua localidade – denominados jovens de base – os quais foram selecionados durante o Tempo Comunidade 1. Consumo consciente, transição para produção orgânica, produção de fitoterápicos, reaproveitamento da água e produção de horta foram alguns dos temas abordados nessas formações.
Como atividade final, cada jovem formador elaborou e apresentou um projeto de viabilidade econômica sustentável, a partir da sua realidade, destacando a agriculta familiar dentro da perspectiva da agroecologia.
Para além dos ensinamentos práticos e teóricos, o curso de Formação Agroecológica possibilitou novos olhares sobre a realidade dos jovens formadores. “Com acompanhamentos, diálogos e tutores chegando para conversar, a gente vai descobrindo um valor muito importante”, destacou Jonathan da Silva Apis, 23 anos, de Paracambi, na Baixada Fluminense. “Os jovens lá de onde eu moro são como eu era. Ninguém quer saber de nada. Se eu conseguir uma nova oportunidade para eles, quero que eles também agarrem com toda a vontade, como eu agarrei essa que estou tendo agora”.
O projeto multiplicou o conhecimento agroecológico, com o manejo sustentável da agricultura, evitando o uso de venenos e agrotóxicos. Além disso, os jovens consideram que compartilhar o conhecimento sobre a agricultura ajuda a criar uma nova visão de futuro para outros jovens de suas regiões.
Essa experiência contribuiu para o fortalecimento da agroecologia por meio do empoderamento da juventude rural, ocupando espaços decisórios nas suas regiões e mostrando que, nos 14 municípios onde o projeto atuou, existe uma juventude comprometida, engajada e que quer contribuir com a agricultura familiar, desenvolvendo atividades que gerem renda para sua família e comunidade.
Publicado originalmente no Rural Semanal 02/2019