Texto: Uli Campos Leal/Comunicação Proext
É sexta-feira (28/6) à noite e a cidade de Seropédica se prepara para o final de semana. Quem sente o calor da noite nem lembra que já é inverno. Uma sexta-feira típica na cidade. Será? Quem estava próximo da conhecida Rua do Grêmio ouviu uma canção muito conhecida ser tocada de forma única por alunos, voluntários e oficineiros do Centro de Arte e Cultura (CAC). Ao som de “Anunciação”, de Alceu Valença um cortejo formado por alunos partiu do Casarão – uma escola livre de artes em Seropédica – e seguiu pelas ruas da cidade com o destino a praça Nildo Romano, onde estava instalada a III Mostra Cultural do CAC.
Ao som de trompetes, tambores e flautas, os alunos convidavam os moradores para participarem do evento. Entre exclamações e sorrisos, os alunos chegaram à praça e deram início às programações culturais da Mostra cultural. Nativo de Seropédica, o aposentado Luiz Henrique assistia a performance do grupo de maracatu. “Eu acho importante que tenha esse tipo de manifestação cultural, porque é a uma cultura que a gente não conhece aqui no Rio”, disse sobre o ritmo musical. O morador afirmou que sente curiosidade em saber mais sobre a apresentação. “E eu mesmo vou querer saber de onde é. Se é do Norte ou do Nordeste. De qual região do Brasil que tem esse tipo de cultura. Eu acho muito legal, bacana mesmo. Quem venha esse e outros também”, completou.
Sobre as atividades do centro cultural o morador afirma que se sente mais próximo da universidade. “Tendo os alunos da universidade fazendo esse tipo de cultura pra gente une mais o povo de Seropédica com os estudantes da Rural. É importante sim e espero que continue esse tipo de ação”, afirmou. A cozinheira e moradora de Seropédica, Renilce Cristina da Silva, estava esperando para a apresentação de dança do ventre da sua filha. “É um meio de chegar até as pessoas. É claro que eu me sinto parte. Eu me sinto bem. Acho bacana. Incentiva todo mundo a participar”, completou a moradora.
O professor do Colégio Técnico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CTUR) Thiago Dias Trindade destacou que as ações culturais não apenas aproximam a universidade à população de Seropédica, mas ratificam que a Rural está presente e de portas abertas para os moradores da região. “Eu vi o CAC ser criado. Foi com muita luta que ele foi criado, mas luta ainda para ele ser mantido. É muito bacana a gente considerar que boa parte dos frequentadores não são universitários, são moradores da cidade de Seropédica e isso precisa ser preservado”, disse o professor. Ele ainda levanta a questão sobre o impacto de ações culturais no cotidiano de Seropédica. “Ações como essa, que promovem a cultura e a reflexão, valorizam a própria cultura. Eu desejo que o CAC continue com esse gás porque é necessário. Ainda mais nessa época onde não se promove a cultura. A cultura é inimiga do governo. Essa massificação alienígena, a massificação do que vem de fora está cada vez maior. Eu falo como cidadão. E vamos lutar pela nossa cultura e que o CAC permaneça por muitos e muitos anos realizando essas atividades na rua. A gente precisa da universidade na rua”, completou o professor.
Matheus Sousa, coordenador do Centro de Arte e Cultura disse que a ideia da Mostra surgiu com o pensamento que era necessário ter um evento que apresentasse o que os alunos realizavam dentro do CAC. “A primeira Mostra Cultural foi na Praça da Alegria (dentro da Rural, em frente ao restaurante universitário). Depois foi no Gustavão (Auditório Gustavo Dutra). A terceira a gente pensou em fazer fora da Rural para realmente apresentar aquilo que já estávamos fazendo. Foi a melhor Mostra Cultural até agora no sentido de apresentar para pessoas novas”, disse o coordenador.
Dedicação, suor e muito trabalho
Quem viu e gostou das apresentações e das exposições dos trabalhos das oficinas, talvez não tenha pensando em como tudo foi planejado previamente por membros da equipe do CAC. Segundo o coordenador do Centro, a prefeitura da cidade ajudou com o suporte técnico e com a estrutura, além de cederem o espaço da praça para as exposições e oficinas da Mostra. Porém a maior parte do trabalho foi realizado por voluntários e oficineiros do Centro de Arte e Cultura. “Nós colocamos a mão na massa. E foi lindo. A terceira mostra foi a que mais me motivou porque antes ficava nas mãos de poucos. Agora, vimos que os oficineiros estavam realmente engajados”, disse o coordenador.
A aluna de Arquitetura e Urbanismo Lígia Magalhães mostra-se orgulhosa em expor seu trabalho ao público. Desde março a estudante faz parte da oficina de fotografia do CAC. “Eu sempre quis estudar fotografia. Eu já trabalho com a fotografia porque eu ganhei uma câmera da minha tia. Eu sempre me interessei muito por fotografia. Sempre fotografei, mas nunca tive instrução. Um curso de fotografia é muito caro. E o CAC traz essa oportunidade de estudar, um curso caro, de graça”, disse Lígia.
“As pessoas (na exposição) me pararam, me perguntaram e elogiaram as fotos. Foi muito maravilhoso estar participando desta amostra. O que eu aprendi no CAC só somou aquilo que eu já sabia. Me fez ter uma outra visão muito mais profunda pela fotografia”, finalizou a estudante.
O coordenador reconhece que o CAC ainda tem um longo caminho para percorrer. “Eu tenho consciência de que ainda falta bastante para o CAC chegar no lugar ideal que eu considero como um espaço cultural que abrange tudo, mas dentro do possível a gente faz e continua fazendo todos os dias” disse. Quanto à aproximação das atividades da universidade com Seropédica Matheus afirma que o CAC pode tem um papel fundamental na interação de ambos os lados, mas é claro que nada é fácil. “No imaginário ainda existe isso de que arte e cultura ainda é uma coisa muito afastada. É difícil lidar com essa realidade. Fazer um evento e a pessoa pensar que não tem nada ver com ela. É uma sementinha que vai sendo regada e de pouquinho em pouquinho ela vai germinando”, completou.
Paula Lopes também fez parte da equipe de organização da Mostra. A aluna contou como hoje o CAC se apresenta como um projeto de extensão mais participativo dentro do cotidiano de Seropédica. “Hoje, assumimos a postura de que para além dos alunos que podem participar das nossas oficinas, nosso maior objetivo é ser um espaço participativo para Seropédica. Somos um projeto de extensão e é nossa obrigação sair da zona de conforto universitária. Falta sim alcançarmos mais pessoas e mais bairros de Seropédica, mas, seguimos pensando e planejando ações para serem vistas e acolhidas por essas pessoas”, explicou Paula.
O Centro de Arte e Cultura foi criado em 2007, sob a gestão do então reitor Ricardo Miranda, com o propósito de atender à necessidade das atividades artísticas culturais voltadas para as comunidades universitárias e circunvizinhas do município. Hoje, o CAC tem pouco mais de 30 oficinas disponíveis e totalmente gratuitas e está vinculado ao Departamento de Arte e Cultura (DAC) que fica dentro da Pró-Reitoria de Extensão da Rural (Proext. )Para saber sobre mais sobre o centro acesse a página oficinal no facebook.