Nesta segunda-feira (31/03), pela manhã, a Comissão de Mudanças Climáticas da UFRRJ apresentou à comunidade acadêmica, no Salão Azul do P1, o relatório inicial sobre as condições do clima e conforto nos câmpus da Universidade.
A Comissão é integrada pelo seu presidente, o professor Andrews Lucena (Instituto de Geociências), além dos docentes Leandro Dias (Instituto de Geociências), Gustavo Bastos Lyra (Instituto de Florestas), Henderson Silva Wanderley (Instituto de Florestas) e Heitor Soares de Faria (Instituto de Geociências), que estiveram presentes, e Cristiane Cardoso (Instituto Multidisciplinar) e Edileuza Dias de Queiroz (Instituto Multidisciplinar), que não puderam participar do workshop desta segunda.
Instituída pela Portaria GABREI nº474/2024, que considerou o contido no Ofício n° 66/2023-ADUR/RJ, de 29 de novembro de 2023, a Comissão tem como objetivos monitorar e avaliar os impactos decorrentes das mudanças climáticas no âmbito da UFRRJ, bem como apresentar à comunidade universitária um diagnóstico e uma análise acerca das mudanças climáticas na Universidade e, em específico, propor um itinerário de ações e medidas a serem implementadas.
Ações e proposições para a Universidade
A apresentação de hoje, em formato de workshop, está inserida nas demandas constituídas a partir da Comissão e faz parte do próprio protocolo de construção de ações e recomendações pertinentes ou urgentes decorrentes dos impactos das mudanças climáticas. Para assistir ao evento, foram convocados os conselheiros do Conselho Universitário (Consu).
Presente à abertura do workshop, o reitor da UFRRJ, professor Roberto Rodrigues, reafirmou o compromisso que as comissões provindas do Consu têm com proposições efetivas para a Universidade. “A ideia é que as comissões retiradas do Conselho Universitário tenham começo, meio e fim – e resultado. Por isso, estamos fazendo essa convocação agora, divulgando o resultado para a comunidade. A partir deste resultado, que possam ser feitas deliberações pelo Consu”, explicou Rodrigues.
Na vanguarda
O reitor também destacou o ineditismo da iniciativa: “Tenho conversado com outros reitores e reitoras, e quase nenhuma instituição tem um protocolo estabelecido sobre as questões climáticas. Então é algo novo que precisamos desbravar, precisamos discutir, rever, avançar, mas nunca deixar de debater. Entender que são situações novas e as situações novas colocadas requerem pensamentos novos, visões novas, interpretações novas de situações existentes anteriormente. Por isso, e destaco sempre isso, é necessário entender a universidade a partir do seu olhar do passado, mas não se prender ao olhar do passado. Ter uma visão de universidade a partir daquilo que construímos com os nossos próprios recursos, daí o papel da ciência dentro desse processo”, concluiu.
Com dois câmpus situados na periferia urbano-metropolitana, a UFRRJ assume posição de vanguarda na busca da construção de um protocolo de ação para enfrentamento das mudanças climáticas.
Com boa parte de sua comunidade acadêmica formada por moradores do entorno imediato – especialmente da Baixada Fluminense e Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro – , isso significa construir uma interpretação abrangente da realidade local-regional e propor ações que possam, inclusive, transbordar os seus muros.
Mudanças climáticas
O professor Leandro Dias explicou, na abertura do evento, que as mudanças climáticas são “transformações de longo prazo nos padrões do clima da Terra, envolvendo temperatura, dinâmica de chuvas e outras intempéries correlatas”. E completou: “desde ao menos a década de 1970, a comunidade científica internacional tem apontado que as atividades humanas têm sido o principal impulsionador das mudanças climáticas, devido, principalmente, à queima de combustíveis fósseis”.
A geração de eletricidade e calor pela queima de combustíveis fósseis, o modelo industrial hegemônico, o desmatamento e supressão florestal, as demandas de mobilidade com o uso de veículos movidos a combustíveis de origem fóssil e a própria dinâmica ultraconsumista do mundo contemporâneo podem ser apontadas como causas das mudanças climáticas.
Entre os efeitos no curto, médio e longo prazo das mudanças climáticas, destacam-se as temperaturas mais altas – a última década (2011-2020) foi a mais quente já registrada –, a ocorrência de intempéries mais intensas e frequentes, o aumento da seca, o derretimento de placas de gelo, os riscos para a sobrevivência de espécies, para a saúde humana e para as próprias condições de sobrevivência das camadas mais pobres.
“Algo importante precisa ser reforçado: são as periferias do mundo as áreas mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas, envolvendo desde as dificuldades de enfrentar os eventos climáticos extremos até as condições de moradia e sobrevivência em relação ao estresse climático”, ressaltou o docente.
Apresentação
Dividida em três partes, a apresentação se iniciou com o professor Andrews Lucena que mapeou a Temperatura da superfície continental em Seropédica, Nova Iguaçu, Três Rios e no campus de Seropédica no século XXI. Destaque maior foi dado ao campus Seropédica ao dividir a Universidade em 18 polígonos. Considerando o verão “áreas onde estão o P1, a área dos alojamentos, o PAP e o PAT se destacam com as temperaturas mais altas”, revelou o docente.
Além disso, segundo o estudo, P1, alojamentos, prefeitura universitária, PAT e PAP, sobressaem-se na parte final do ranking com vegetação mais estressada do campo Seropédica. Outra consideração importante diz respeito ao Instituto Multidisciplinar, situado na área mais quente e com vegetação mais estressada de Nova Iguaçu.
O professor Gustavo Lyra deu continuidade à apresentação mostrando as tendências, tanto da temperatura do ar, como de um índice de conforto térmico para o câmpus Seropédica. “Nesse primeiro momento, já temos indicadores que temos que nos preocupar com as tendências significativas de aumento das temperaturas”, afirmou. O professor aponta que a temperatura do ar máxima e um índice de temperatura e umidade (THI) máximo evidencia tendência significativa de aumento em Seropédica. Os meses que requerem atenção para o (des)conforto térmico são dezembro, janeiro, fevereiro e março.
Em seguida, o professor Henderson Silva Wanderley abordou as bases de um possível protocolo a ser adotado pela Universidade. “Esse protocolo é um conjunto básico de informações, decisões, normativas que serão levantados, definidos, debatidos, até que se chegue a um consenso”, explicou.
Henderson mencionou a mensuração dos níveis de desconforto com as temperaturas extremas e como a Universidade lidará com essas situações. A aplicação de um Índice de calor e seu respectivo conforto/desconforto térmico para o DCA do Instituto de Florestas (IF) foi tomado como exemplo. “O que eu preciso ter no câmpus? Comunicação. Essas informações, por exemplo, quando o aluno fizer a matrícula ou quando ele chegar na primeira semana de calor, devem ser passadas para ele”, explicou o docente, referindo-se a informações e medidas claras que podem ser passadas à comunidade em situações de temperatura fora da normalidade, adotada como um protocolo. “Devem existir ações mínimas de prevenção e ações que indicam, por exemplo, ações básicas que os alunos devem fazer”.
Protocolo
O estudo conduzido pela Comissão constitui a base de um protocolo em fase de elaboração, que será levado à apreciação e debate no Consu para o estabelecimento de ações de enfrentamento às mudanças climáticas no âmbito da UFRRJ.
Um relatório parcial das atividades da comissão será divulgado a toda comunidade universitária até o início do mês de maio/2025.