Aconteceu, no dia 25 de outubro, no Pavilhão de Aulas Teóricas (PAT) da UFRRJ, o evento “Atletas Paralímpicos: eficiência na quebra de paradigmas”, organizado pela professora Valéria Marques junto com suas turmas de Psicologia que se mobilizaram para trazer à Universidade essa discussão tão atual e enriquecedora.
Durante a manhã, houve mesas de debate. A primeira foi intitulada “Roda da conversa: A experiência do atleta”. Já a segunda mesa da manhã teve como tema “A interdisciplinaridade na preparação dos atletas”. E durante toda a manhã nessas mesas redondas foram vistos debates com atletas, profissionais da Psicologia do Esporte e técnicos trazendo suas experiências e vivências.
Os atletas falaram um pouco das suas dificuldades e superações. Fernanda Tolomei relatou que tinha vergonha da sua deficiência na mão, por isso, a escondia com a manga do casaco durante muitos anos de sua vida, e explicou como o esporte mudou a forma como se via. Tolomei é pioneira no Surfe Adaptado no Brasil. Com apenas 26 anos, a atleta já praticou Futebol, Tênis de Mesa e, atualmente, é a campeã brasileira de Surfe Adaptado, além de ser a primeira mulher convocada para representar o Brasil no campeonato mundial de Surfe Adaptado, que acontecerá na Califórnia.
Como se já não fosse o bastante ser uma grande atleta paralímpica, Fernanda também é psicóloga especializada em Esporte. Para Fernanda é fundamental que toda pessoa com necessidades específicas seja vista além da sua deficiência.
– A deficiência faz parte da história da minha vida. Então, eu sei que as pessoas olham para sua deficiência e não para sua potencialidade – declara a atleta.
Além de Fernanda, outros atletas paralímpicos também estavam presentes. Um deles foi Daniel Martins, campeão paralímpico de Atletismo nos 400 metros. O atleta tem epilepsia e veio de São Paulo para falar sobre sua experiência no esporte. Ele contou como o esporte o ajudou a se ver para além de sua doença. Por incrível que pareça, o vencedor da medalha de ouro nos Jogos Rio 2016 treina em uma rua comum da cidade de Marília. Conhecido como Neymar Paralímpico (devido a sua semelhança física com o jogador de futebol), ele é praticante do esporte há apenas três anos e já bateu diversos recordes paralímpicos.
Já o atleta Lucas Araújo, da Bocha Paralímpica, que tem paralisia cerebral, se emocionou e emocionou a todos falando sobre seu esporte e sua superação. Dentre outras coisas, ele revelou a frase que usa para nunca desistir:
-Eu quero, eu posso, eu consigo.
Outro atleta paralímpico que marcou presença no evento foi Wanderson Oliveira, que ganhou a medalha de bronze nas Paralimpíadas Rio 2016 no Futebol de Sete. Wanderson contou que seu sonho sempre foi ser jogador de Futebol, mas por conta da sua deficiência no braço direito, era rejeitado nos clubes onde tentou ingressar. Até que, por meio de um amigo, conheceu o Futebol de Sete e percebeu que lá só importava seu talento com a bola nos pés e não a sua deficiência no braço. Ele já participou de três Paralimpíadas e disse que o bronze teve gosto de ouro. Além disso, Wanderson já foi eleito duas vezes o melhor jogador de Futebol do mundo na sua categoria.
Levi Carrion, que ajuda na preparação de Daniel Martins, ressaltou a importância da Psicologia do Esporte. Além disso, como ele cuida da parte de gestão, falou sobre a importância dos patrocínios investidos da maneira correta e da importância do evento para a inclusão desses atletas.
– Inclusão é isso, fazer um evento com pessoas deficientes e não deficientes. Todas juntas. Se você faz um evento só com pessoas com deficiência você não está incluindo, e sim, separando – explica Levi. Ele falou também sobre a importância do esporte paralímpico: – O esporte paralímpico é magnífico e precisa muito de pessoas para ajudar, mas não qualquer pessoa. E sim, pessoas capacitadas para trabalhar na área – conclui.
Durante todo o evento foi discutida a importância do acompanhamento psicológico dos atletas e da psicologia esportiva. Todos os atletas e profissionais que estavam presentes concordaram que é fundamental que um psicólogo especializado em esporte acompanhe os atletas não só na hora das competições, mas durante todo o processo de treinamento. A psicóloga Cecília Guimarães, proprietária de uma empresa especializada em Psicologia do Esporte, falou durante o debate e também durante uma breve apresentação sobre a importância desse acompanhamento.
Na parte da tarde, ocorreu a oficina de Rugby Paralimpíco, no Pavilhão de Educação Física. Rafael Pinho, atleta deste esporte, visitou o evento e falou um pouco sobre a modalidade que pratica.
O evento foi promovido pelo curso de Psicologia e pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRRJ com apoio da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) em parceria com o grupo de pesquisa da professora Marcia Campeão, do Departamento de Educação Física e Desporto da UFRRJ, que trabalhou como técnica da Bocha Paralímpica nas Paralimpíadas do Rio 2016.
Por Thaís Melo/ estagiária CCS