Por Isabele Bard e Roberto Jones (*)
Com o início do isolamento, decorrente da pandemia do novo coronavírus, a maior parte dos alunos deixaram residência e alojamentos, retornando para a casa de seus familiares. Para alguns, a mudança na rotina foi uma das maiores dificuldades para se adaptarem às aulas online. Em casa, tarefas domésticas se juntaram aos trabalhos acadêmicos, aulas síncronas, emprego ou estágio, e causaram desgaste no dia a dia desses estudantes.
Para o estudante do 6° período de Jornalismo Nilton Carlos dos Santos, a soma das horas dedicadas ao home office, seguidas do tempo de estudo remoto, causaram saturação. Segundo ele, os professores com os quais teve aulas remotas no semestre passado foram compreensíveis, entendendo a complexidade e singularidade dos alunos. “Com a virada do ano e uma dinâmica melhor formulada sobre como funcionariam os períodos letivos em 2021, tenho a impressão de que estou conseguindo conciliar melhor minhas atividades e atendendo melhor às demandas acadêmicas”, comenta Nilton. Apesar de se sentir mais seguro, ele salienta que prefere o ensino presencial, pois, mesmo com a dificuldade de locomoção, o contato com as pessoas fazia toda a diferença e contribuía para o seu desenvolvimento.
Em Seropédica, faz falta a tranquilidade proporcionada pelo câmpus da Universidade – com relaxantes áreas a céu aberto, além de espaços silenciosos como a biblioteca e as salas de estudos. É quase impossível encontrar em casa locais análogos a esses. Há dificuldade em criar um ambiente de estudo confortável, que faça sentir o mais próximo da sala de aula, e isso atrapalha o rendimento desses alunos.
A estudante de Belas Artes Yasmin de Freitas Pereira tem como meta tentar cursar todas as matérias do 7º período para não atrasar sua formatura. A graduanda diz que teve dificuldade para estudar durante o ano passado, mas que agora está mais fácil, pelo formato online de aulas ter se tornado o “novo comum”. Apesar de achar estressante o único ambiente de estudo ser sua própria casa, isso a permitiu focar e se aprofundar mais nas matérias. “A falta de interação real, a timidez enorme que existe no espaço virtual, onde todo mundo se sente impotente… Foi difícil me adaptar. Mas com a passagem do tempo, as adaptações psicológicas e meu espaço físico de estudo, tudo melhorou”, avalia Yasmin.
É notória a perda de boa parte da vivência acadêmica que, além das aulas, também é moldada pelas trocas de conhecimento proporcionadas pelos diversos grupos da Rural, a interação com pessoas de diferentes origens e um contato prático e dinâmico entre os integrantes da comunidade universitária.
Formada no período emergencial em Licenciatura em Geografia, Fernanda Malheiro Lourenço agora cursa o mestrado em Geografia, também na UFRRJ. A mestranda diz que uma de suas maiores dificuldades foi a falta de contato com seus colegas e professores. “Desde o período passado tem sido uma luta diária estudar. Eu só me formei porque queria muito tentar o mestrado”. Para ela, a distração causada pelas aulas online dificulta seu aprendizado.
Apesar de o novo formato ter causado dificuldade para uma parte dos alunos, outros se sentiram melhor contemplados por ele, como é o caso da estudante do 3° período de Pedagogia Leilane Alvez de Almeida. Para ela, as aulas online facilitaram seus estudos, por trabalhar durante a tarde e não precisar se locomover até a Universidade depois de um longo dia de trabalho. Ela consegue aproveitar melhor as aulas, apesar de lamentar a falta dos encontros presenciais. “Antes de estar na Rural eu fazia uma faculdade EaD. Então, me adaptei facilmente. Pra falar a verdade, o ensino da Rural, mesmo em EaD, está se tornando melhor do que a da minha antiga faculdade, principalmente por termos contato direto com os professores (e não tutores) e assistirmos aulas online”, destaca Leilane.
Educar na nova realidade
Além dos alunos, a comunidade docente também enfrenta diariamente os impasses causados pelo ensino à distância, como a falta de conexão à internet ou o pouco conhecimento sobre as funcionalidades das plataformas de ensino online. Ainda assim, os professores se dedicam para fazer o momento de aprendizado ser o mais agradável possível, dentro de suas limitações.
Para a professora do curso de Jornalismo Rejane Moreira, a pandemia ajudou a perceber as mudanças do mundo moderno e a adequar as práticas de lecionar à nova conjuntura. “Tivemos na Universidade o cuidado de fazer um período emergencial, com propostas pedagógicas mais coletivas. Mesmo assim, estamos tentando minimizar os impactos negativos. Nada substitui a sala de aula, o encontro presencial e afetivo de um processo de ensino e aprendizado. Mas essa é a nossa realidade hoje”, conta.
Os professores não só tiveram de se adaptar ao novo formato de ensinar, mas também lidam com a falta de interação dos alunos durante o período de aulas. Esta é a principal dificuldade mencionada pela docente Silvia Martim, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS). Silvia relata que a perda de recursos importantes para o processo de aprendizagem utilizados na modalidade presencial influencia negativamente nas aulas à distância. “Conduzo os encontros síncronos estimulando a participação dos alunos com perguntas direcionadas. Porém, é muito frustrante a interação extremamente baixa dos nossos estudantes. Estamos vivenciando momentos muito difíceis em nosso país, e muitos estudantes podem estar passando por situações pessoais delicadas, o que me faz analisar a baixa interação com mais compreensão e compaixão”, diz Silvia.
As dificuldades são muitas para os dois lados, mas apesar dos obstáculos, professores e alunos traçam juntos a melhor forma de conduzir os estudos em um momento tão delicado como o atual. Criando vínculos e aprendendo uns com os outros, tanto a comunidade discente quanto a docente dão o seu melhor para que as aulas sejam proveitosas para todos.
(*) Isabele Bard é bolsista de Jornalismo da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd/UFRRJ); Roberto Jones é estagiário de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)
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