Veteranos, concluintes, iniciantes e amantes da TV, alunos da UFRRJ participaram da ambientação
Iniciando o semestre, alunos do curso de jornalismo da Rural participaram da ambientação sobre o Velho Chico, próxima novela das 21h, num evento organizado pela Comunicação Globo. Reunindo universidades de todo o Estado, instituições de teatro e ONGs, o evento da tarde de última segunda-feira (29) movimentou o Museu do Amanhã, localizado na Zona Portuária do Rio de Janeiro.
Os alunos da UFRRJ que foram ao evento são alunos matriculados nas disciplinas de Telejornalismo, Laboratório de TV, Projetos Profissionais, Criação Audiovisual e Jornalismo Especializado, turmas em que a professora Fafate Costa ministra aulas na Instituição.
O evento teve três blocos distintos para a ambientação de toda a aura da dramaturgia que abrilhantará parte do horário nobre da Rede Globo de Televisão. A abertura da tarde ficou por conta de Camila Pitanga, que proferindo o texto de Ana Paula Brasil sobre o Velho Chico, mergulhou os participantes no terroir local (termo que explicaremos mais a frente).
Elson de Assis contou ao público a história visual do Velho Chico
Começando com as descobertas sobre o Rio São Francisco, o doutor em história e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em Juazeiro-BA, Elson de Assis Rabelo, apresentou a “Memória das Águas: cores paisagens do São Francisco no Brasil contemporâneo” através do trabalho fotográfico e artístico de Euvaldo Macedo Filho, fotógrafo falecido em 1982 e de Celestino Gomes, pintor falecido em 2004.
Em seguida, foi a vez de José Figueiredo, sommelier, pesquisador e documentarista vínico apresentar as maravilhas e surpreendentes descobertas do valor do Vale do São Francisco na produção de vinhos nacionais. José contou ao público a história das vinícolas da região e com muito orgulho, apesar de ser catarinense, disse:
“As margens do Velho Chico, uma região tão inóspita, mas uma das mais generosas para a produção de vinho no mundo”.
A região é, segundo ele, a única do mundo a produzir duas safras de vinho/ano.
O primeiro bloco teve seu encerramento com muita alegria, emoção e diversão com a música de Lucy Alves, finalista do The Voice Brasil 2013. A cantora, e agora também atriz, começou sua apresentação musical com um agitado solo de sanfona feito por ela, mas não perdeu a oportunidade de emocionar o público com Petrolina, Juazeiro do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. A animação ficou por conta de Pagode Russo, também do eterno Gonzaga.
Lucy Alves emocionou e agitou o público logo no início do evento
Depois de apaixonados pela história do Rio, foi o momento de fazer o público se apaixonar pelas histórias dos ribeirinhos locais. Arrancando lágrimas da plateia enquanto tentava segurar as suas, Ozaneide Gomes dos Santos contou sobre a “Agroecologia e o empoderamento das mulheres” da região. Em seguida o senhor José Francisco, empreendedor sertanejo, contou sua história e como é ser “2x Francisco”, José Francisco foi um dos primeiros a observar o potencial turístico local.
Lembra do termo que usamos lá em cima, o terroir? Ele foi apresentado naquela tarde por Paula Theotonio, jornalista e blogueira gastronômica da região do Vale do São Francisco. Terroir é o termo usado para denominar a essência de um lugar, formada por seu povo, sua terra e as transformações que, com o tempo, surgem no local.
Paula chegou ao palco para falar sobre comida, enchendo d’agua a boca do público contou e mostrou as maravilhas regionais, desde o peixe à carne de bode, tão importantes na formação e na sobrevivência daquele povo, não só no início da colonização local, mas até hoje em tempos de seca e fome.
Após um intervalo, o debate mediado pela repórter da Globo News Bianca Ramoneda, encerrou o evento. Sob uma meia luz alaranjada, que muito lembrava um fim de tarde e inspirava calmaria, estavam no palco o médico psiquiatra e um dos fundadores da Sociedade Brasileira de psiquiatria Analítica, Carlos Byington; o repórter nordestino, José Raimundo, responsável por diversas matérias sobre o leito do Velho Chico; o filósofo, teólogo e cientista social atuante na equipe do Conselho Pastoral dos Pescadores e da Comissão Pastoral da Terra do Rio São Francisco, Roberto Malvezzi; e o vice-presidente de Conservação internacional no Brasil, professor do Instituto de Floresta da UFRRJ, Rodrigo Medeiros.
Com voz e confiança de quem sabe o que está falando, Gogó, como é conhecido Roberto Malvezzi, começou sua participação na tarde de segunda dizendo que o Rio São Francisco tem 800m³ de água e, por isso, é preciso cuidado ao falar do Vale, escolher entre destacar as belezas ou os estereótipos é importantíssimo para a história local.
Bianca Ramoneda, Carlos Byington, José Raimundo, Roberto Malvezzi e Rodrigo Medeiros compuseram a “mesa” de debate
Rodrigo Medeiros disse acreditar que, num país onde a população se entope de remédios de sanidade, a novela será nossa boa dose de ritalina para o déficit de natureza da cidade grande:
“É preciso que o país entenda a influência que nosso meio ambiente tem na produção de alimentos mundial e com essa consciência, possa inspirar-se à preservar a terra que é de todos nós.”
Logo em seguida, José Raimundo fez questão de lembrar que em 1999, quando conheceu o Rio São Francisco, sua profundidade na parte mais rasa era de 3-4 metros, já no ano passado em sua terceira reportagem especial sobre o Velho Chico viu as balsas que atravessavam o rio darem lugar aos cavalos que cruzam as margens sem molhar suas patas.
Em meio a tantas reflexões, levando em conta toda a cultura local apresentada nos primeiros blocos Bianca Ramoneda disse que a biodiversidade poética fica ameaçada com os crimes com a biodiversidade local.
Em seguida, pegando o gancho da crise econômica e moral atravessada pelo país, Carlos Byington disse esperar que esses nove meses [tempo médio de exibição da novela] de mergulho na crise do Velho Chico, os espectadores possam gestar as descobertas sobre a vivência local e inundar-se dos símbolos da nacionalidade, redescobrindo o que é ser brasileiro, essência tão soterrada pelas decepções oriundas da corrupção do país.
Ainda sobre o tema, Gogó encerrou o debate dizendo que ao Brasil só falta um novo espírito de ética para lidar com toda sustentabilidade abundante do país.
Mãe e filho, autores de uma história de amor pelo Brasil
Depois desse profundo momento de reflexão social foi a vez de conhecer os autores da novela, mãe e filho, Edmara Barbosa e Bruno Luperi, filha e neto de Benedito Ruy Barbosa. Eles escrevem juntos essa história de amor com a essência da brasilidade como plano de fundo. Um plano de fundo escolhido a dedo para que os espectadores possam navegar pelo Rio e ver o Brasil, encontrar nas margens do Velho Chico sua brasilidade, sua essência.
A tarde se encerrou com a apresentação artística de Paulo Araújo e a Banda Morão di Privintina, de Bom Jesus da Lapa-BA, grande responsáveis por fazer os autores se apaixonarem e decidirem pela região.
Depois que ouvir tudo o que foi dito na ensolarada tarde de segunda-feira, Fafate Costa acredita que ter levado os alunos para o evento trouxe-os para próximo do universo de pesquisa de um grande produto, fazendo-os descobrindo um universo desconhecido, aprofundando-se em debates fortes sobre questões sociais profundas com profissionais conceituados sobre o tema.
“Fora que ter a oportunidade de levar o aluno de Seropédica para um grande centro onde outros estudantes têm mais chances de participar, é sempre uma oportunidade que não podemos perder. O objetivo é, ainda, utilizar o que tem aqui [centro do Rio] e levar como objeto de partilha com os colegas que não puderam vir.”
E sem dúvidas o desejo da professora foi alcançado. Segundo as alunas do sétimo período Maiara Santos, Pamela Machado e Ana Clara Frontelmo, foi possível sim aprender como funciona o projeto de pesquisa de grandes produtos.
“Foi incrível ver de perto o quão fundo a produção de uma novela chega para captar a realidade local antes de passa-la ao público”, declarou Maiara.