Discente de Sistemas de Informação apresentará sua pesquisa sobre o uso da tecnologia de comunicação sem fio Bluetooth Low Energy (BLE) em ambientes rurais no ACM Sigmetrics, um dos congressos mais importantes na área
A discente do curso de Sistemas de Informação da UFRRJ Beatriz Pereira de Souza teve seu trabalho de pesquisa selecionado para ser apresentado no congresso internacional ACM Sigmetrics, o mais importante da Association for Computing Machinery (ACM) na área de redes de computadores, que acontecerá em junho, em Orlando, nos Estados Unidos.
Além disso, Beatriz foi agraciada com a disputada bolsa ACM-W (ACM Women), que concede um prêmio em dinheiro a cientistas mulheres selecionadas em todo o mundo. A aluna também recebeu a bolsa do próprio congresso ACM Sigmetrics, como uma das vencedoras na disputa ACM Student Research Competition (SRC) na categoria alunos de graduação. Beatriz é discente e pesquisadora no Laboratório de Sistemas Digitais do Departamento de Computação (Decomp/ICE), câmpus Seropédica.
“Vale ressaltar que além de ter tido o trabalho aceito, o que já é muito difícil, Beatriz conseguiu esta bolsa de US$ 1.200 [ACM-W] competindo com estudantes do mundo inteiro. Depois da pandemia, aumentou substancialmente o número de pedidos de bolsa para ir ao congresso (qualquer estudante, não só os apresentadores de trabalho, pode pedir ajuda para ir ao congresso). Além disso, é uma aluna de graduação (não é mestrado e nem doutorado). Eu mesmo tentei publicar neste congresso algumas vezes e não consegui”, ressalta Marcio Miranda, professor orientador da bolsa de IT da Faperj de Beatriz e do trabalho de fim de curso de SI, que é só elogios à aluna.
A bolsa ACM-W é concedida anualmente a pesquisadoras do mundo inteiro na área de computação com o objetivo de ampliar a participação de mulheres neste mercado. Já o congresso ACM Sigmetrics é um dos principais eventos para a comunidade de desempenho de sistemas computacionais, patrocinado pela ACM, uma das maiores organizações profissionais do mundo dedicadas ao avanço da tecnologia, apadrinhando os melhores congressos tecnológicos e as melhores revistas sobre o assunto.
O professor Luiz Maltar foi um dos mentores e é coautor do trabalho aceito no Sigmetrics apresentado pela discente e destaca algumas características da aluna que podem explicar seus resultados. “A Beatriz fez várias matérias, obrigatórias e eletivas com os professores que atuam no laboratório, manteve a seriedade nos estudos e, consequentemente, obteve um desempenho muito bom. É uma presença constante no laboratório, trabalhando nos períodos em que não possui aulas. Além disso, apresentou uma capacidade enorme de comunicação e trabalho em grupo. Seu interesse muito amplo em diversas áreas foi de grande benefício para todos nós. Ela sempre respondeu com clareza e empenho às demandas diversas tais como: leitura de artigos de revista internacional, leitura de especificações de equipamentos e de sensores. Por diversas vezes, levou equipamentos para trabalhar em casa durante feriados e fins de semana”, explica o docente.
A pesquisa
Para falar sobre a pesquisa relacionada ao trabalho apresentado, o docente Luiz Maltar explica brevemente o conceito de Internet das Coisas (IoT). Conforme esclarece o professor, a IoT compreende a interconexão de dispositivos físicos, veículos, eletrodomésticos e outros objetos por meio da internet, permitindo a coleta e troca de dados.
Uma das áreas mais investigadas no emprego de IoT, atualmente, são as chamadas “Cidades Inteligentes”, ou Smart Cities, onde o objetivo geral é repensar o funcionamento da cidade, utilizando a tecnologia IoT para coletar e analisar dados em tempo real, a fim de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, otimizar a gestão urbana e promover a sustentabilidade.
Com a proliferação de dispositivos conectados à internet, como smartphones, relógios inteligentes, assistentes virtuais e eletrodomésticos, é possível controlar e monitorar remotamente uma ampla gama de coisas. As tecnologias de comunicação sem fio que tornam a comunicação entre esses equipamentos possíveis são, na sua maioria, o WIFI e o Bluetooth.
Luiz Maltar explica que a migração dessas tecnologias para ambientes rurais no modelo chamado Smart Farming tem despertado muito interesse no mundo, tais como em universidades, centros de pesquisas como a Embrapa, empresas do agronegócio e, mais recentemente, na UFRRJ, através de vários grupos, em particular, do Laboratório de Sistemas Digitais/Sistemas Embarcados-ICE.
“Neste laboratório temos um grupo formado por professores e alunos que tem desenvolvido, já há algum tempo, vários estudos teóricos/práticos, com a criação de protótipos visando, entre outros objetivos, o desenvolvimento de equipamentos de baixo custo para agricultores de pequeno/médio porte, dando a eles os subsídios necessários para a tomada de decisão, com a consequente melhoria de sua produtividade”, esclarece Maltar.
O trabalho apresentado pela aluna Beatriz investiga o uso da tecnologia de comunicação sem fio Bluetooth Low Energy (BLE) para a interconexão de nós sensores/atuadores em ambientes rurais. Os nós são formados por equipamentos muito baratos constituídos por microcontroladores de baixo consumo e de baixa capacidade de computação, que são conectados a transceivers de rádios bluetooth e todo este sistema é alimentado por baterias simples de baixa capacidade e de baixo custo.
A pesquisa, portanto, propõe uma abordagem baseada em WSN (Redes de Sensores sem Fio) para monitorar remotamente os parâmetros do ecossistema interno de estufas, garantir uma boa eficácia energética e, futuramente, contribuir com uma melhor administração de recursos. Um diferencial da pesquisa para a área, conforme explica Beatriz, é o fato de o sistema desenvolvido ser de baixo custo e fácil manutenção, o que viabiliza sua aquisição por pequenos e médios agricultores.
A aluna
Concomitante ao Ensino Médio, Beatriz Pereira fez um curso técnico no eixo Informação e Comunicação e, a partir daí, afirma que passou a ter um grande carinho pela área. Foi então que optou pelo curso de Sistemas de Informação para dar prosseguimento aos estudos.
“Eu me envolvi com o laboratório logo após o retorno das aulas presenciais. Dois professores pelos quais tenho muito apreço e admiração, Marcio Nunes de Miranda e Luiz Maltar Castello Branco, e que ministram disciplinas que despertaram em mim um grande interesse, me convidaram para conhecer o laboratório e as pesquisas posteriores (drones e robôs que desviam de obstáculos) e vigentes. Ainda cursando disciplinas como a de Sistemas Distribuídos, também fui capaz de desenvolver mais meu interesse pela área. A turma desenvolveu um projeto com IoT que foi apresentado na SNCT.
O monitoramento de culturas, principalmente em estufas, não é um assunto novo entre as pesquisas desenvolvidas no curso, porém, a possibilidade de desenvolver um sistema com uma boa eficácia energética, que opere em locais remotos, sem acesso à Internet, e acessível para pequenos e médios produtores foi o que mais chamou minha atenção”, revela a aluna.
Sobre o resultado de seus esforços estampados através de duas bolsas internacionais, Beatriz é enfática. “Admito que a notícia me pegou de surpresa, ainda mais que só foram selecionadas outras nove pesquisas em todo o mundo e, até agora, assumo que não consigo mensurar a enorme relevância que isso traz para mim. Para ser sincera, de primeiro momento foi difícil acreditar, depois eu tive que tomar um suco de maracujá para acalmar um pouco os ânimos. Após ter o artigo aceito, começamos a correr atrás de recursos para viabilizar a minha participação no congresso. E conseguir uma bolsa da ACM-W com patrocínio do Google e uma do próprio evento (ACM Sigmetrics) é de extrema importância, e traz uma dupla sensação de reconhecimento para o aluno.
Estou muito ansiosa para junho e também com um enorme sentimento de gratidão para todos que me apoiaram e guiaram até aqui”, revela a aluna, que tem a intenção de continuar suas pesquisas após a conclusão do curso esse ano em um futuro mestrado.
O laboratório
No Laboratório de Sistemas Digitais trabalham vários alunos de Iniciação Tecnológica e Iniciação Científica com projetos finais orientados pelos professores Luiz Maltar, Marcio Miranda, Nilton José Rizzo e Eduardo Kinder. Nele os alunos aprendem vários conceitos relacionados a redes de computadores, sistemas operacionais, arquitetura de computadores, sistemas digitais (HW), processamento de imagens e engenharia de SW.
O professor Marcio Miranda explica que o diferencial da UFRRJ na área tecnológica é seu corpo docente, composto por doutores provenientes dos melhores programas de pós-graduação do país na área tecnológica. “Esses professores conseguem formar alunos capazes de disputar vagas nas principais empresas no mercado de trabalho e nos principais programas de pós-graduação do país de igual para igual com outros alunos provenientes de universidades com melhor infraestrutura e mais dinheiro para laboratórios”, conclui.
A aluna Beatriz também ressalta a relevância do corpo docente e o comprometimento deles com os discentes. “A maior dificuldade para a condução da pesquisa é a falta de recursos para a aquisição de equipamento adequado, problema esse que foi contornado com muito esforço e contribuição por parte do corpo docente que integra o Laboratório de Sistemas Digitais”, ressalta Beatriz.
O docente Luiz Maltar revela que ele e outros professores do Decomp/ICE têm atuado, intensamente, no desenvolvimento de programas (software) e protótipos que fazem uso de tecnologia de ponta, relacionadas às áreas de Internet das Coisas (IOT), Redes de Sensores Sem Fio, Sistemas Embarcados etc., investindo tempo e recursos no Laboratório de Sistemas Digitais/Sistemas Embarcados para este fim.
“Os exemplos práticos apresentados durante as aulas refletem a experiência e a busca contínua por atualização dos docentes, e tem um potencial maior para estimular os alunos a participarem de projetos de pesquisa/extensão. Quando há interesse dos alunos, estimulamos o seu desenvolvimento através da orientação de projetos de fim de curso e/ou bolsas de iniciação científica/tecnológica que, na maioria das vezes, é feita no Laboratório de Sistemas Digitais/Sistemas Embarcados. Além disso, incentivamos a participação dos alunos em eventos científicos, tais como a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, com a apresentação de trabalhos e palestras”, finaliza Maltar.
Por Fernanda Barbosa
Jornalista/CCS