“Meu nome é Ana Clara Pereira da Silva, tenho 19 anos e sou estudante de Medicina Veterinária. Terminei o ensino médio em 2014, mas não estudei, não fiz nada e não passei. Em 2015, fiz pré-vestibular, estudei bastante de domingo a domingo e consegui. Acho que o mais difícil foi ter disciplina de estudar direitinho todos os dias – o que não fazia antes – e dificuldade financeira para consegui fazer o curso. Foi difícil. Mas, sinceramente, acho que fui bem imatura para escolher onde ia estudar. Eu pesquisava, mas sei lá… Até agora, eu ainda estou “viajando na maionese”. Para falar a verdade, eu não tenho nem certeza se quero ser veterinária. Foi minha primeira opção, mas eu não tenho certeza. Assim, aqui é lindo, mas eu ainda estou meio perdida. Estou me sentindo meio que jogada, como se tivessem jogado minha vida inteira no lixo. Estou me sentindo agoniada. Vou embora daqui feliz, mas venho com o coração apertado. Acho que minha cabeça ainda está muito ensino médio, muito infantil. Estou me acostumando ainda e vou experimentar.
Quando comecei a pensar em ser veterinária, pesquisei concursos públicos e também procurei prova para Marinha e Exército. Meu namorado era militar e falou que não iria admitir caso eu desse sorte, passasse no concurso, ganhasse muito mais que ele e assumisse uma patente maior. Seria ele ganhando 4 mil reais e a sua mulher ganhando 8 mil. Foi um preconceito da parte dele. Não estou mais namorando ele, mas acho que fui submissa na época. Aquilo que ele me falava não me convencia nem me abatia. Entrava por um ouvido e saía pelo outro.
Ser mulher é não ter medo de se impor, não ter medo de desagradar. Porque se deixar – não só eles como algumas mulheres – vão continuar a pensar dessa maneira, infelizmente.”
Este depoimento faz parte da Série Mulher UFRRJ que, ao longo do mês de março, publicará histórias de mulheres que ajudam a construir e fortalecer a comunidade universitária da UFRRJ. As entrevistadas são selecionadas aleatoriamente pela equipe da CCS/UFRRJ e podem manifestar livremente suas opiniões e contar sua história com a Rural.
Agradecemos a todas elas que concederam seu tempo, sua imagem e compartilharam sua história conosco.
Por Bruna Somma e Natália Loyola/CCS