A semana começou com um marco na história da UFRRJ: a deputada federal Benedita da Silva foi a primeira mulher negra a receber o título de Doutora Honoris Causa em nossa Universidade. O feito aconteceu em uma cerimônia oficial, organizada na tarde desta segunda-feira (26), no auditório Gustavo Dutra, câmpus Seropédica.
“É uma emoção sem limite. Eu tenho vários diplomas e certificados da ‘faculdade da vida’, né? Mas é muito gratificante ter este reconhecimento agora”, disse Benedita, em entrevista exclusiva à Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ). “A gente se encontrou. Tá vendo? Eu, que nunca tinha recebido um título de Doutora Honoris Causa, e a Rural, que nunca tinha concedido a uma mulher negra.”
O auditório Gustavão estava lotado de rostos negros, pardos, brancos, multigêneros, jovens, maduros… mostrando a cara de uma universidade que se une na diversidade. Faixas, bandeiras e coros de “Olê, olê, olê, Bené, Bené…” compunham o cartão de boas-vindas para a homenageada.
Ao lado de Benedita da Silva, estiveram na mesa cerimonial o reitor Roberto Rodrigues; o vice-reitor César Da Ros; o diretor do Instituto de Tecnologia (IT) Pedro Paulo de Oliveira; a presidente da Capes Denise Pires; o secretário de Educação Superior do MEC Alexandre Brasil; e uma figura central na história da homenagem do dia: o técnico-administrativo Maurício Marins, que apresentou a sugestão ao Conselho Universitário (Consu).
A plateia reuniu convidados e autoridades, entre os quais os reitores da UFRJ, Roberto Medronho, e do IFRJ, Rafael Almada; o assessor da reitoria da Uerj, Adair Rocha; a diretora de Relações Institucionais do IFFluminense, Ileana Celeste Franzoso; as deputadas estaduais Elika Takimoto e Marina do MST; além dos familiares de Benedita, incluindo o ator Antonio Pitanga, marido da deputada.
‘O rosto desta universidade passou a ter a nossa cara’
Na entrega do título, o reitor Roberto Rodrigues manifestou a satisfação da UFRRJ em conceder sua honraria máxima a Benedita. “É um orgulho para a Universidade tê-la como homenageada: a primeira mulher negra para quem esta instituição outorga o título de Doutora Honoris Causa”, ressaltou Rodrigues.
Já o técnico Maurício Marins, que propôs a entrega do título, relembrou, com emoção, os principais momentos da biografia de Benedita da Silva. “Se minha voz embargar, é minha ancestralidade falando mais alto”, disse Marins. “Essa mulher negra, guerreira e potente, que nunca se conformou com a discriminação, sempre esteve à frente de seu tempo”.
Ao proferir seu discurso, Benedita se emocionou e emocionou a todas e todos, acrescentando algumas doses de humor a suas palavras. “Por conta da emoção, a assinatura no diploma ficou um pouquinho diferente, mas sou eu mesma”, brincou a deputada, que, ao agradecer aos presentes, fez um agrado especial ao marido Antonio Pitanga – “O homem mais bonito do Brasil”, disse ela.
A agora Doutora Honoris Causa da UFRRJ destacou o “o potencial criativo” de uma comunidade acadêmica “engajada, diversa e inclusiva”.
“É muito gratificante ver que o rosto desta universidade passou a ter a nossa cara; a sua cara passou a ter a nossa raça; a sua cor e a sua etnia passaram a ter o nosso gênero; a sua identidade e seu nome social passaram a ter as nossas origens – o lugar de onde você veio, o lugar de onde eu vim. Ao chegar aqui na Rural, vi pessoas como eu: uma preta favelada, mulher, que eu não via nos bancos escolares quando eu teimei em seguir estudando, sabendo que, de onde eu saí, o trabalho vinha primeiro”, disse Benedita, num dos trechos de seu discurso.
Ao encerrar sua fala, a homenageada clamou pela união e pela luta contra discriminações de todos os matizes:
“Não à homofobia; não ao preconceito contra religiões de matriz africana; não ao preconceito contra pessoas com deficiência; não ao preconceito contra toda e qualquer família, por serem pobres, negras ou indígenas… e que, por serem mulheres, nunca devem ser violentadas. Aprendi com vocês na universidade da vida: caminhando juntos é que chegamos. Agradeço muito a esse diploma que eu chamo de ‘Doutor Honoris Cidadania’. Muito obrigada!”, concluiu Benedita, recebendo um minuto de aplausos de pé.
Assista à gravação da cerimônia no link abaixo:
O que falaram de Benedita
“Para mim, como um homem negro, é um sentimento múltiplo. Benedita da Silva encaminhou várias emendas parlamentares para o crescimento da Universidade. Assim, ela foi fundamental para que a Universidade sobrevivesse num período difícil. Eu já conhecia a história da Benedita, né?, pelas suas lutas, pela defesa das causas dos negros e das mulheres negras, mas eu não sabia o que ela ainda fazia para a Universidade. Então, para mim foi um momento muito maravilhoso perceber que ela tinha essa preocupação.”
Técnico-administrativo Maurício Marins, em entrevista para a CCS/UFRRJ
“A Bené é uma referência para nós. Pioneira, mulher… Venceu todas as barreiras: a barreira do racismo, a barreira do machismo… É uma pessoa que realmente inspira todas nós mulheres. Eu não sou uma mulher negra, mas sei como é difícil para as mulheres. Imagine Benedita da Silva, mulher negra e pobre, o que ela precisou fazer para nos iluminar. Porque Bené é luz, Bené nos iluminou durante toda a sua vida pública. Parabéns à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro por agora estar sendo toda iluminada pela Bené.”
Presidente da Capes Denise Pires, em entrevista para a CCS/UFRRJ
“Benedita, você é um exemplo de vida para nossa vida.”
Reitor Roberto Rodrigues, em seu discurso durante a cerimônia
“A UFRRJ reconhece uma militante das favelas, símbolo da resistência.”
Professora Maria Ivone Barbosa (IT/UFRRJ), em seu discurso
“Já passei por muitas solenidades, em 42 anos de Rural, mas nenhuma me emocionou tanto como esta. Sua vida é um exemplo, Benedita”.
Diretor do IT Pedro Paulo de Oliveira, em seu discurso
“Bisa, eu só quero dizer que te amo muito. E que você merece isso e muito mais. Você é maravilhosa!”
Manuela, bisneta de Benedita, em participação no final da cerimônia
Reportagem: Matheus Mendonça e João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Fotos: Miriam Braz (CCS/UFRRJ)