Há cerca de 1,5 milhão de imigrantes no Brasil, sendo que cerca de 700 mil, de 163 nacionalidades, são refugiados ou solicitantes de refúgio. Neste mês de junho, que abriga o Dia Mundial do Refugiado (20/6), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro conta a história do sírio Siraj Salman Mohammad que foi agraciado, no ano passado, com uma bolsa da Faperj no programa Luiz Pinguelli Rosa de Mobilidade e Instalação de Pesquisadores Originários de Regiões em Conflito em Instituições de Ciência e Tecnologia.
O programa da Faperj trouxe ao estado nove cientistas de zonas de conflito e um deles é o Salman Mohammad. Orientado pelo professor José Lucena Barbosa Júnior, da Universidade Rural, o sírio analisa as aplicações bioativas do resíduo da filetagem de peixes, especialmente, os efeitos antimicrobiano e anti-inflamatórios da pele de tilápias.
– O produto obtido apresentou 130% do efeito anti-inflamatório do medicamento disponível. Ou seja, 30% acima do produto comercial. Isso tudo a partir de um resíduo, ressalta Lucena.
Mohammad destaca a multidisciplinaridade do estudo que reúne áreas como biologia, tecnologia, química e alimentos. E Lucena complementa que o trabalho foi realizado em parceria com uma empresa de venda de tilápias em Mangaratiba, região sul fluminense, e que já está expandindo as aplicações para um shot – bebida em dose única, funcional e bioativa.
Ele se diz extremamente satisfeito com a oportunidade que a bolsa lhe trouxe e a cooperação entre os cientistas brasileiros.
– Junto com a equipe, conseguimos vários resultados bem interessantes e continuo com os experimentos para testes de cicatrização de queimaduras em animais de laboratório, usando os peptídeos biológicos, oriundos da pele da tilápia.
Para a coordenadora da Assessoria de Relações Internacionais da Faperj, Vânia Paschoalin, este edital trouxe a possibilidade a pesquisadores qualificados e produtivos e que trabalham em áreas de fronteira do conhecimento. Originários de regiões conflituadas, estavam impedidos de desenvolver com plenitude pesquisas em seus países de origem.
– Nesta primeira edição do programa Luís Pinguelli Rosa, os pesquisadores contemplados com as bolsas de mobilidade e instalação vieram de países que enfrentam conflitos históricos, e encontraram parceiros científicos nas diferentes ICTs do Estado do Rio de Janeiro, e juntos, estão desenvolvendo ciência de qualidade e inovação tecnológica em diversas áreas do conhecimento, a serviço da melhoria da vida da sociedade fluminense, afirma Paschoalin.
Cada pesquisador contemplado neste programa recebeu uma bolsa mensal de R$ 9 mil e mais bilhetes aéreos de ida e volta e seguro saúde. O anfitrião também recebeu um aporte de até R$ 200 mil. Até final de julho, a Faperj promete lançar mais um edital para cientistas refugiados de zonas de conflitos.
Fonte: Boletim Faperj
Texto: Claudia Jurberg, assessora de imprensa da Faperj