Nos últimos anos, manifestações artísticas em todas as suas formas, assim como a educação e espaços de discussão e reflexão de temas urgentes de nossa sociedade têm sido alvo de crescentes ataques perpetrados por seguimentos políticos que, sob o pretexto de resguardar princípios morais, tentam reativar a censura com o intuito de interditar o debate público que leve ao reconhecimento das barbáries que vulneram nossa sociedade, proibindo exposições, ordenando a retirada de obras de bibliotecas, de feiras ou ainda perseguindo professores.
O episódio mais recente diz respeito ao livro O avesso da pele do escritor Jeferson Tenório, vencedor do prêmio Jabuti de 2021, que está sendo retirado das bibliotecas escolares dos Estados do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul por decisão de dirigentes estaduais sob a alegação de conter palavras chulas e cenas de sexo que tornariam a sua leitura imprópria para alunos do ensino médio.
Em 2022, O avesso da pele foi escolhido pelo MEC para compor uma lista de obras recomendadas para a leitura dos alunos de ensino médio dentro do Programa Nacional dos Livros Didáticos. Diante da orientação do MEC, as escolas e os professores têm autonomia para escolher os livros a serem estudados em sala de aula, ou seja, o ministério não obriga a utilização do livro. Mas a retirada do livro, tal como decidida nos Estados citados, PROÍBE a sua leitura em função de decisões de gestores políticos.
Na prática, os censores em questão – alguns até se vangloriando de não ter lido o livro – restringem a liberdade de exercício do ensino e negam a competência de especialistas do MEC. O caso fica ainda mais grave tratando-se de um livro agraciado pelo Prêmio Jabuti, o maior prêmio literário brasileiro, outorgado por um júri do mais alto nível de competência na área. A proibição do livro de Jeferson Tenório desmoraliza indiretamente a reflexão e o ensino relativos ao estudo da literatura, tentando subjugar atividade intelectual nessa área a juízos políticos.
O exercício da criação literária e o seu estudo são fundamentais tanto para a democracia quanto para a liberdade de expressão e o desenvolvimento cultural dos cidadãos. As tentativas de cerceamento do direito à literatura, urdidas por forças políticas com claras posturas autoritárias, devem ser veemente repelidas.
Por isso, nós, professores de literatura da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, declaramos aqui nossa total solidariedade e apoio ao escritor Jeferson Tenório, premiado merecidamente e injustamente atacado.
Carta assinada por todos os professores da área da UFRRJ nos campi de Seropédica e Nova Iguaçu:
Anderson Soares Gomes, Camila do Vale Fernandes, Christian Dutilleux, Claudia Barbieri, Debora Ribeiro Lopes Zoletti, Elisa Lima Abrantes, Fernanda Felisberto, Luis Carlos Alves de Melo, Marcos Estevão Gomes Pasche, Maria Fernanda Gárbero, Mario Newman de Queiroz, Regina L. De Faria, Roberto José Bozzetti Navarro, Rosemary Gonçalo Afonso, Valeria Rosito Ferreira, Ximena Antonio Diaz Merino.