Dentre as premissas do Jornalismo, uma delas é a exibição. Se há produção de trabalhos jornalísticos, é importante que sejam expostos e que consigam atingir o maior número de pessoas. Foi com o intuito de valorizar e divulgar os trabalhos dos discentes do curso de Comunicação Social da Rural que nasceu, em 2014, a Mostra de Trabalhos Práticos dos Alunos de Jornalismo da UFRRJ. A segunda edição aconteceu no Auditório Paulo Freire, localizado no Instituto de Ciências Humanas e Sociais, nos dias 7 e 8 de dezembro, das 18h às 22h.
A professora das disciplinas Telejornalismo II e Projetos Profissionais, Maria de Fátima Costa, não encontrava sentido em ter tanto trabalhos bons em mãos e guardá-los para si. Por esse motivo, criou a mostra, que passou a ser um dos momentos mais esperados pelos alunos do curso. Eles apresentam para a comunidade acadêmica e seropedicense, amigos, familiares e entrevistados, o que fizeram com carinho e dedicação.
No dia da mostra, os alunos das turmas mais novas assistiram e sentiram-se desafiados em fazer algo do mesmo nível do que estava sendo apresentado, e os que exibiram encontravam-se ansiosos, emocionados e orgulhosos de si. Depois de um longo desafio e das dificuldades enfrentadas, o sentimento de orgulho sobressaiu no auditório.
– Você não faz comunicação para si. Você só faz comunicação para o outro. Então a proposta é essa, fazer com que os alunos se sintam felizes por poder mostrar. Eu me sinto muito feliz por poder divulgar o que a gente está fazendo com tanta dificuldade – declara a professora Maria de Fátima, mais conhecida como Fafate Costa.
Neste ano, foram 23 trabalhos práticos produzidos pelos alunos. Apenas dois não são em mídia audiovisual. O primeiro dia do evento reuniu programas de TV e telejornais produzidos pelos alunos da disciplina de Telejornalismo II e o “Rural Ciência” construído no laboratório de TV . E aí?, Se liga, Rota Universitária e o Desprograme mostram a todos que os alunos do curso de Jornalismo da Rural sabem fazer televisão com muita criatividade, e abordam temas que não costumam passar na mídia comercial e hegemônica.
– O nosso programa, Se Liga, é estilo revista eletrônica e fala de temas variados com uma pegada mais leve, já que é voltado para jovens. Teve matéria sobre intercâmbio, food truck, direitos LGBT, entre outros – explica Neuriane Gaulberto, aluna do 6º período.
A disciplina de Telejornalismo é completa. Os alunos lidam com construção textual, imagética e sonora. Eles pensam também na estética e em roteiro. Além disso, tenta criar nos alunos a habilidade de trabalhar em grupo. Alguns discentes disseram que aprenderam a contar e confiar no outro.
– Eu gostei muito do Desprograme. Abordar resistência é algo que me encanta muito. A matéria sobre a comunidade quilombola Santa Rita do Bracuí me deu vontade de estar lá, e passar com as repórteres tudo o que elas vivenciaram. Deu gosto de “quero mais” – elogia Adrian Busch, aluna do 6º período.
Depois das 20h, iniciaram-se as apresentações de Projetos Profissionais. Como foram 16 documentários produzidos, uma noite não seria suficiente para exibição de todos. Com amor, Fanáticos de Carolina Danelli e Mariana Venâncio e As Galeras, que ganhou o Troféu Iguacine, da 4ª Edição do Festival de Cinema de Nova Iguaçu, de Juliana Portella, finalizaram o dia.
O dia 8 de dezembro exibiu os documentários Por trás do Pódio: a trajetória da campeã Ana Carolina Vieira, Paraty em Memórias, Barulho de Garagem, Pescadores na Berlinda, Terra Prometida, Penedo: a Finlândia Tropical, Subversivos: os anos de chumbo na UFRRJ, Transinformação, Negra Sou, Filhos do Reuni e LiberdArte. Além disso, foi apresentada a reportagem especial Paralelos: os extremos do esporte amador. Por quatro horas, o reflexo dos vídeos e o encantamento do momento fizeram com que os olhos do público brilhassem.
Por trás do Pódio: a trajetória da campeã Ana Carolina Vieira iniciou a noite de apresentações. O projeto retratou a vida de uma jovem multicampeã em Jiu-Jitsu, e a dificuldade de ser mulher num esporte masculinizado. As alunas Ana Caryne e Marina Montesano mergulharam na história da personagem e produziram algo real, forte e sensível. O trabalho das alunas está disponível no Youtube.
– Fazer esse tipo de trabalho faz a gente se tornar mais humana. A gente se aprofunda na história das pessoas. A gente chorava vendo as conquistas. Foi muito maneiro – conta com satisfação Ana Caryne.
Tarsila Döhler, aluna do 8º período, disse que umas das maiores dificuldades, ao produzir um documentário, é encaixar as diversas histórias que tem, sem mudar o contexto e alterar a verdade. Ser cuidadoso para não criar outro sentido sobre a vida das pessoas é ter responsabilidade e consideração pelo o que o outro oferece.
– Eu e minha dupla, Paula Giffoni, falamos sobre Penedo, pertencente à Itatiaia. É a única colônia finlandesa no Brasil. Falamos sobre o trabalho que os descendentes de finlandeses têm para preservar a cultura que é dos pais deles, que vieram pra cá e conseguiram ter uma vida no Brasil. As pessoas foram muito atenciosas com a gente – conta Tarsila Döhler.
Entre tantos trabalhos bons, maduros e que abordavam temas de cunho social e político, Negra Sou, das alunas Ana Beatriz Sacramento e Jéssica Borges; Subversivos, criados por Laiz Carvalho, Andressa Braga, Leandro Marlon e Filhas/os do Reuni, dos discentes Kathleen Santiago e Victor Ohana; se destacaram.
– Gostei muito do Negra Sou, pela sensibilidade ao tratar sobre o racismo com mulheres negras. Tudo abordado com muita riqueza de opiniões, depoimentos emocionantes e um toque sutilmente artístico. E o Subversivos porque quase ninguém fala da rural em tempos da ditadura – diz Victor Ohana, aluno do 8º período e um dos autores do documentário Filhas/os do Reuni.
O projeto Subversivos impressionou a todos pela riqueza de material e por fazer um documento histórico. As imagens antigas de ex-alunos em alguns locais da Universidade Rural deixaram a plateia impressionada.
O curso de Jornalismo na Universidade Rural existe graças ao projeto de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Os alunos de comunicação sabem como é graduar-se em um curso que ainda está se estruturando. Foi vendo a importância de debater esse assunto que nasceu o documentário Filhas/os do Reuni.
– O Reuni propiciou a criação de diversos cursos na Rural e permitiu que mais estudantes de camadas populares pudessem estar no ensino superior público. Tentamos calcular qual o grau de importância do projeto na sociedade brasileira, seus limites, desafios, conquistas e falhas. Se é uma medida paliativa ou estrutural na educação superior pública. A ideia surgiu pela necessidade de registrar esse debate em algum meio que dê visibilidade ao tema – explica Victor Ohana.
Uma das maiores dificuldades que os alunos e professores de jornalismo têm é devido à carência estrutural do curso. A professora Maria de Fátima sente-se orgulhosa por ver trabalhos de bom nível, mesmo diante dos problemas enfrentados por todos eles.
– Nós usamos câmeras de fotografia e gravador de rádio. Nosso equipamento não é para TV, então o nosso áudio não é para TV e nossa câmera não é para TV, e nós estamos fazendo TV. Além disso, não tem uma ilha de edição. O aluno vai praticar, vai para rua gravar, mas ele tem que ir para casa dele para editar. Ele acaba me trazendo um trabalho que poderia ter ficado ainda melhor se eu tivesse visto outras vezes antes – explica Fafate Costa.
A professora também conta que uma dificuldade notória dos discentes de Jornalismo é encontrar horário disponível para a elaboração dos trabalhos. Ser estudante, ter aulas à noite, estagiar longe da Universidade Rural e buscar entrevistados com horários compatíveis com os deles é um desafio e tanto.
– Nós, e vários setores da instituição, estamos empenhados na aquisição desses equipamentos. E é importante que se diga o seguinte: conseguimos fazer com o pouco que temos, por que temos talento e estimulamos os alunos a pensarem. E se conseguimos fazer com pouco algo de bom nível, imagina o alto nível que conseguiremos quando tivermos equipamentos para trabalhar – conclui a docente.
Assista ao vídeo da professora Fafate Costa fazendo a abertura da Mostra.
Por Natália Loyola/CCS
Imagens Pamela Machado