Nesse final de período 2015.2, a Sala de Cultura, localizada na entrada do alojamento masculino do câmpus Seropédica, está retratando a resistência, a luta e a representatividade das mulheres negras. A exposição “Menina Mulher da Pele Preta” foi inaugurada na última segunda-feira, 23 de novembro, e estará aberta à visitação até o término do calendário acadêmico.
As alunas do curso de Ciências Sociais, Amanda Sarmento e Lene Gil, tiveram a iniciativa da organização da exposição, e contaram com outras 30 meninas que fizeram o projeto acontecer.
A exposição traz imagens de mulheres que se disponibilizaram, através de um grupo no Facebook, em participar de ensaios fotográficos. As primeiras 30 meninas que se interessaram foram chamadas. Amanda Sermento e Lene Gil só não esperavam que tantas pessoas, entre moradoras de Seropédica e discentes, gostariam de contribuir com o trabalho. Mais de 200 garotas entusiasmaram-se.
Lene Gil, também responsável pelo blog http://somosoutros.com, explica que o trabalho é fruto do esforço coletivo de cada uma que participou, e que são 30 meninas produzindo juntas e ampliando olhares.
– Não sou o padrão de beleza considerado socialmente e a minha maior intenção era mostrar isso. Porém, me surpreendi, pois nem eu sabia como seria bacana o resultado e o reflexo que teria na minha vida – comenta Fiama Ribeiro, aluna do curso de História e uma das modelos do projeto.
Lutar contra o racismo e o machismo requer muita coragem e engajamento. Algumas alunas da Universidade Rural vêm contribuindo para uma sociedade menos preconceituosa e mais justa. As questões da mulher negra vêm crescendo nesses últimos anos, e isso vem, principalmente, através da estética.
O objetivo principal da exposição é contribuir para uma conscientização que faça com que as pessoas enxerguem beleza em si e naquilo que são, e que as outras percebam que o respeito deve ser a base de tudo.
– Tem gente que nunca pensou nessa questão, em como as mulheres negras se sentem. Eu acho que quando você expõe alguma coisa, as pessoas começam a pensar sobre aquilo – afirma Amanda Sarmento sobre a importância de abordar algumas temáticas através da arte.
Uma roda de conversa sobre o tema abriu a exposição. As modelos contaram como foi a experiência de se autoconhecerem durante os ensaios fotográficos e o que trouxe de mudanças para a vida delas. Além disso, debateram sobre o racismo e a diversidade de belezas que existem. Muitos alunos prestigiaram a conversa e aproveitaram o momento para descontruírem algumas ideias já formadas.
– Debatemos sobre a aceitação da mulher negra, de como, além do machismo, temos que enfrentar o racismo. Foi emocionante perceber o quanto em comum eu tinha com aquelas meninas. E os alunos se interessaram bastante. Eles participaram e se emocionaram junto conosco. Foi maravilhoso observar o interesse das pessoas. A exposição encheu a sala de cultura – comenta Fiama Ribeiro.
Amanda Sarmento e Lene Gil pretendem levar a exposição para outros espaços, como o Instituto Multidisciplinar/câmpus de Nova Iguaçu, algumas comunidades carentes e, principalmente, para escolas municipais. As alunas acham que é de suma importância levar esse debate através da arte para crianças e jovens, durante a fase de formação do indivíduo.
– Para a mulher negra, o Ensino Fundamental é uma fase muito difícil. É quando você fala “eu sou feia mesmo”. E se a gente tiver esses tipos de projetos nas escolas, os meninos e meninas vão mudar de opinião – explica Amanda Sarmento.
A exposição “Menina Mulher da Pele Preta”, que recebeu o nome graças à música do cantor e compositor Jorge Ben, espera todos da comunidade acadêmica e seropedicense para um momento acolhedor e de aprendizado.
Por Natália Loyola/CCS