Coordenador do curso de Relações Internacionais e professor do Departamento de História e Relações Internacionais do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da UFRRJ, Pedro Henrique Pereira Campos foi agraciado com o prestigiado Prêmio Jabuti, a mais tradicional premiação literária do Brasil, que inclui 27 categorias.
A obra “Estranhas Catedrais. As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-militar. 1964-1988”, de autoria de Campos e publicada pela editora EDUFF, levou o primeiro lugar na categoria Economia, Administração, Negócios, Turismo, Hotelaria e Lazer da 57ª edição do Prêmio. O docente participará da cerimônia de entrega aos vencedores do Prêmio Jabuti 2015 no dia 3 de dezembro, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo.
O sucesso do livro foi tão grande que sua repercussão na mídia foi imediata e a primeira edição já está esgotada. A reimpressão já está a caminho e a segunda edição deve ser lançada em breve (para mais informações junto à editora, acesse o site http://goo.gl/zpLrOG).
Conversamos com o professor Pedro Henrique sobre o projeto do livro e sua repercussão. Segue a entrevista.
Como se originou o projeto do livro “Estranhas Catedrais. As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-militar. 1964-1988”?
O livro é derivado de uma tese de doutorado que defendi em 2012, na UFF, sobre as empreiteiras na época da ditadura militar no Brasil. Um projeto que teve cinco anos de preparação e foi orientado pela professora Vírginia Fontes. Durante a defesa da tese, muitos me incentivaram a encaminhá-la para a Faperj. E foi exatamente isso que fiz. O interesse deles foi tão grande, que resolveram transformar minha pesquisa em livro, que foi publicado pela EDUFF – Editora da Universidade Federal Fluminense. A obra é uma análise crítica sobre a inserção, contaminação e subordinação do Estado aos interesses dos empresários. A publicação ainda oferece dados para compreensão das injunções políticas e estratégias que direcionam as decisões da iniciativa privada e do poder público.
Qual foi sua reação ao saber que ganhou o Prêmio Jabuti e ver seu trabalho reconhecido?
Fiquei muito satisfeito. Mas vale ressaltar que esta obra não é fruto do meu trabalho individual. Existe um esforço coletivo por trás disso. Fui orientado por professores da UFF, recebi dicas de amigos aqui mesmo da Rural (fui aprovado no concurso para professor justamente durante meu doutorado). Sem a ajuda deles, o trabalho não teria chegado ao fim. Foi um conjunto de auxílios e sugestões. Não houve, somente, meu esforço particular.
Qual a relevância de ganhar esse prêmio?
Acredito que seja divulgar e mostrar para as pessoas que as universidades públicas também podem desenvolver pesquisas de qualidade e que possuem capacidade para serem premiadas. É um alento que pesquisas como a minha e de outros colegas sejam feitas em um período tão delicado, de instabilidade econômica e de corte de verbas para as instituições públicas. Ainda assim, podemos mostrar que as universidades estaduais e federais são produtivas e merecem ser reconhecidas como um bom ambiente para desenvolver projetos, que devem ser valorizados.
O senhor acha que o livro alcançou maior notoriedade devido à situação de crise econômica e política pela qual o país passa?
Com certeza! O livro seria publicado, originalmente, no primeiro semestre de 2014. Porém, eu pedi à editora que este prazo fosse prorrogado até abril, para coincidir com os 50 anos do Golpe Militar. Seria um ótimo gancho para a abordagem do livro. No entanto, por problemas internos, a EDUFF só conseguiu publicá-lo no segundo semestre de 2014, justamente quando os escândalos de corrupção e a operação Lava-Jato foram deflagrados. O vasto esquema de lavagem de dinheiro da Petrobras, coordenado por políticos e pelas maiores empreiteiras do país, passou a estar em voga na sociedade. Essa coincidência fez com que minha obra tivesse boa repercussão. Fui entrevistado por jornais nacionais e até mesmo internacionais, como o Wall Street Journal e periódicos portugueses. Tais veículos de comunicação divulgaram a pesquisa, ressaltando o olhar crítico em relação ao período da ditadura, sobre a relação entre empresários e Estado e suas “tenebrosas transações”.
Existe uma vontade de realizar um desdobramento dessa pesquisa com enfoque no cenário atual?
Sim. Já venho orientando alunos de iniciação científica sobre a situação da internacionalização dessas empresas desde o período da Ditadura até os dias atuais, com foco na área financeira. Afinal, não é de agora que se negociam cartéis e que existe propina e corrupção. Isso aconteceu na Ditadura e até mesmo antes desse período. Não é um problema restrito e originário da nossa época.
Por Bruna Somma/CCS