O projeto recebeu aporte financeiro por meio do edital de produções culturais para apresentação digital no estado do Rio de Janeiro
A exposição fotográfica “Sete cores e outras mais das aves de Cachoeiras de Macacu”, do professor de Geografia Emerson Guerra, está disponível para visualização digital permanente no site https://7cores.46graus.com/. O projeto foi financiado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro por meio do edital Cultura Presente nas Redes 2.
Amante da fotografia de natureza, o docente do Instituto Multidisciplinar (IM), câmpus de Nova Iguaçu da UFRRJ, contou com a colaboração da bióloga Bárbara Pelacani para realizar a curadoria e produção das imagens dos pássaros em Cachoeiras de Macacu. Ao todo, mais de 400 espécies aparecem na lista de ocorrência de aves para o município em questão e a exposição contempla aproximadamente 100 delas.
O site disponibiliza, também, informações sobre as espécies da Mata Atlântica, valorizando a biodiversidade da avifauna da Região Serrana do Rio de Janeiro. Por meio de técnicas fotográficas, os detalhes dos animais foram captados para serem compartilhados com um público amplo e diversificado. De acordo com a equipe, essa produção cultural tem como objetivo principal conectar arte e natureza, além de permitir uma ampliação da percepção da diversidade de aves, das suas cores e formas.
“A relação da imagem com a natureza é uma via de mão dupla, não só porque a natureza desperta o olhar do fotógrafo, mas como o profissional com o seu olhar pode despertar várias pessoas para a necessidade urgente de conservação da natureza, respeito pelo ambiente e valorização da cultura”, destacaram os coordenadores do trabalho. O projeto, que completou um mês de exposição no último sábado (23/7), já contou com mais de mil visitantes virtuais.
O professor do IM ressaltou que algumas imagens da exposição foram feitas, inclusive, em outros locais da Mata Atlântica. “Mesmo tendo feito fotos dessas espécies em Cachoeiras de Macacu, por vezes, tínhamos imagens das mesmas aves, com qualidade melhor, feitas em outros lugares. Então, consideramos que o mais importante, nesse caso, era primar pela qualidade das fotos para apresentar a ave da melhor forma possível”, pontuou ele.
Os idealizadores da exposição fotográfica sugerem que ela seja apreciada no computador para melhor visualização das imagens. Ao final, o usuário consegue deixar comentários e compartilhar o próprio olhar sobre a exposição.
Impacto do projeto e planos futuros
Um dos focos do trabalho é fazer com que mais pessoas se aventurem no universo de observação de aves. Nesse sentido, Guerra já recebeu o feedback de moradores de Cachoeira de Macacu que estão observando e fotografando aves com seus próprios celulares. “Isso foi muito legal e gratificante: a partir da exposição, pessoas estão querendo identificar o pássaro e saber que espécie é. Recebi também o contato de professores que estão usando a exposição como material didático em atividades pedagógicas com estudantes”, contou o professor, entusiasmado com a repercussão da exposição.
Sem ficar restrito a especialistas e técnicos no assunto, o professor Geografia sonha que mais municípios tenham um trabalho similar, já que esse tipo de material permite a valorização do meio ambiente, da biodiversidade e do envolvimento da comunidade local.
Com a retomada das atividades presenciais na Rural, Guerra já idealiza desenvolver um projeto de observação de aves com estudantes de vários cursos e áreas da UFRRJ. Isso impulsionaria o que ele chama de “ciência cidadã”, em que pessoas que não são da área de Biologia ou Zootecnia observam e registram aves para a publicação em plataformas especializadas. “Sem planos concretos ainda, o trabalho é estimulante tanto dentro dos próprios câmpus da Rural, quanto nos espaços próximos a eles: parques de unidades de conservação, por exemplo. Temos o parque municipal de Nova Iguaçu, no caso do IM, e unidades de conservação na Baixada e Norte Fluminense”.
A expectativa é, inclusive, realizar uma exposição presencial em comemoração ao aniversário de 112 anos da UFRRJ, em outubro, com os materiais da produção cultural.
Paixão pela arte de fotografar
A partir da oportunidade de fotografar aves na Cordilheira dos Andes (Peru), no Deserto Atacama (Chile), na Serra da Canastra (Minas Gerais, Brasil), o professor contou que começou a prática de maneira mais generalista e sem um objetivo específico. As técnicas e olhares especiais para paisagens, plantas e animais surgiram no encontro com a bióloga Bárbara Pelacani, em que eles estudaram e desenvolveram técnicas para fotografar debaixo d’água.
Durante a pandemia, o professor permaneceu mais tempo em Cachoeira de Macacu, na Região Serrana do Rio de Janeiro, onde também fazia o trabalho remoto da Universidade, e começou a perceber a quantidade de aves que o cercavam nas bordas da Mata Atlântica. “Com a câmera fotográfica na mão e sem muitas possibilidades de sair, comecei a me interessar então por fotografá-las – para isso precisava desenvolver uma técnica específica para captá-las, bem como compreender o universo da observação de aves”, explicou.
Produção do material e desafios
A partir dessa imersão, o fotógrafo e Bárbara trabalharam nas fotos usadas na exposição “Sete cores e outras mais das aves de Cachoeiras de Macacu” por dois anos. Muitas vezes, as aves eram encontradas pelo caminho e trilhas de maneira casual. Em contrapartida, outras precisavam da instalação de elementos de atração, como comedouros com frutas, bebedouros com néctar ou o uso de playbacks com cantos e vocalizações da mesma espécie.
Apesar de não terem encontrado espécies raras no local, eles fotografaram um indivíduo raro de uma espécie relativamente comum: o saí-azul. Com uma variação genética chamada leucismo, o animal conta com a ausência de pigmentação em algumas partes do corpo, um albinismo parcial.
Por serem rápidos e ágeis, os beija-flores foram citados pelo professor como os animais mais desafiadores do projeto. “Existe um detalhe técnico na fotografia de aves que é fazer foco sempre no olho do pássaro – então imagina o desafio de conseguir tê-lo cravado no olho de um beija-flor em voo”, explicou o professor. A exposição conta com a presença de um dos menores beija-flores do Brasil: o rabo-branco-rubro, conhecido também como besourinho-da-mata. Por viver nas bordas da mata, ele demorou para se aproximar da casa em que os fotógrafos estavam.
Apesar da dificuldade em estabelecer uma relação de aproximação com o besourinho-da-mata, Guerra e Bárbara instalaram um bebedouro exclusivo dentro de casa, onde a ave bebia néctar na mão dos fotógrafos. “Outras espécies vinham e ele não se aproximava, inclusive por medo dos beija-flores maiores, que são territorialistas. Quando se aproximou, ele se apresentou para nós, por assim dizer, e a gente conseguiu estabelecer uma relação de amizade com esse beija-flor”, mencionou o docente.
As condições da luminosidade também foram desafiadoras para a produção do material, de acordo com o docente. “Fotografar na Mata Atlântica é difícil pelas condições de luz, já que é muito escuro. Algumas aves presentes na exposição, como a rendeira e o patinho, são espécies florestais de atração um pouco mais delicada e que exigiram um pouco mais de técnica”.
Texto: Lidiane Nóbrega – bolsista de Jornalismo da Proext/UFRRJ.
Imagens: Emerson Guerra / Divulgação.