Inscrições para os cursos começam nesta quinta-feira (30/6)
Além dos saberes tradicionais, a Universidade é um espaço rodeado por conhecimentos das mais diversas áreas – música, teatro, dança, literatura, poesia, artes visuais e plásticas são algumas das inúmeras possibilidades. Nesse sentido, o projeto de extensão intitulado Escola Popular de Artes (EPA), que é sediado no câmpus Nova Iguaçu (IM/UFRRJ), oferece atividades artísticas e culturais gratuitas aos públicos interno e externo da Rural. As inscrições para as novas turmas presenciais e online começam nesta quinta-feira (30/6) e podem ser feitas pelo formulário eletrônico clicando aqui.
Com o retorno da Universidade ao ensino presencial, a Escola vive o momento de readaptação para a atuação de corpo presente. O coordenador do projeto, Bruno Borja, comentou sobre a expectativa da equipe ao planejar essa mudança. “Estamos muito felizes de poder desenvolver essas atividades presenciais e movimentar a Universidade, que está precisando de vida nesse momento”, declarou.
Durante o mês de junho, a EPA passou pelo processo de formação de oficineiros. Neste novo ciclo serão ministradas oficinas de criação artística em artes visuais, costura criativa, fotografia, alongamento, horta, poesia, literatura, entre outras. As informações detalhadas do projeto podem ser encontradas no Instagram da EPA, @escolapopulardeartes.
Para Bruno Borja, o processo de formar arte educadores é um dos mais importantes do projeto. “Enquanto uma escola de arte, é importante não só formar, oferecer cursos e oficinas de formação artística e cultural para a população em geral, mas também formar arte educadores dentro da universidade”, afirmou.
O poeta e professor da Rural entende também que a arte e a educação popular oferecidas pela EPA são instrumentos fundamentais para estabelecer contato com a população em geral e para desenvolver a extensão na sua plenitude, com troca permanente entre Universidade e comunidade.
Período remoto: desafios e potencialidades
Criada em 2019, a EPA iniciou suas atividades de maneira presencial, mas, por conta da pandemia de Covid-19, começou a desenvolver seus cursos e oficinas de forma remota através de plataformas digitais como YouTube, Google Meet e Instagram, em 2020. Nesse período, o projeto ofertou 49 oficinas e alcançou mais de 1.500 inscritos – quando foi possível atingir um número maior de pessoas, sem empecilhos de locomoção e geográficos.
Apesar de dificuldades em relação a equipamento e conexão, o período de aulas online permitiu que a EPA expandisse ainda mais seu público. O antigo coordenador do projeto, Nikolas Bigler, contou que o ensino remoto permitiu que a EPA saísse ainda mais dos muros da Universidade – colocando em prática o conceito de extensão. “Era muito comum termos uma miscelânea de sotaques e visões de mundo nas atividades. De certo modo, conseguimos ofertá-las para o Brasil inteiro e tivemos várias pessoas de fora do país também”, explicou.
Importância reconhecida
Em janeiro deste ano, o projeto conquistou o primeiro lugar do Prêmio Destaque Iguaçuano em “Apresentações Artísticas” com mais de 220 votos na categoria. A Prefeitura de Nova Iguaçu, através da Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu (Fenig) e da Secretaria Municipal de Cultura, visou premiar as iniciativas que fazem a diferença na vida das pessoas da cidade.
De acordo com Bigler, a premiação foi importante para reafirmar a necessidade das atividades desenvolvidas na Escola Popular de Artes dentro da UFRRJ. “As artes fazem parte da formação tanto quanto as aulas na graduação e ajudam na formação do indivíduo, cidadão e profissional. Receber esse prêmio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, cria um elo entre a importância da Universidade na cidade e a importância de a cidade ter uma instituição de ensino superior”, afirmou o antigo coordenador da EPA.
Perspectivas futuras
Com um leque amplo de oficinas oferecidas, o projeto visa também formar grupos artísticos de áreas como teatro, música, literatura, artesanato, artes visuais e artes plásticas. Além de oferecer oficinas, o coletivo da Rural também faz intervenções artísticas e apresenta trabalhos artísticos para a comunidade.
Na primeira semana de junho (1/6), o grupo participou da Semana de Integração na volta das aulas dentro da programação que a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) preparou no IM e realizaram uma apresentação de música e poesia, bem como exposições de artes visuais e artesanato no saguão do auditório do Instituto.
Trocas enriquecedoras
Wanderson Branco é formado em História e graduando em Belas Artes, ambas pela UFRRJ, pós-graduando em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) de Nilópolis e oficineiro de artes plásticas e visuais na EPA. As oficinas do acadêmico buscam explorar temas da Baixada Fluminense através da Arte Educação.
No terceiro ciclo da EPA em 2021, Wanderson ministrou oficinas de criação artística, tendo como tema a identidade territorial da Baixada Fluminense. Nos encontros, os participantes eram incentivados a produzir obras nas mais variadas linguagens, que dialogassem com as discussões ao longo do ciclo. “Deste trabalho fundamos o Coletivo 4° Distrito e, em janeiro deste ano, iniciamos a publicação do periódico digital ‘Capivara: Revista de Arte e Cultura da Baixada Fluminense’, reunindo os trabalhos realizados pelos oficineiros.”, explicou ele sobre o coletivo, que pode ser encontrado no Instagram @c4distrito.
O estudante acredita que o potencial de programas de Extensão como a EPA é de estabelecer trocas entre a Universidade e as comunidades do seu entorno. “Nosso coletivo e revista foram um exercício nesse sentido. Acredito no potencial que estes espaços têm de aproximar pessoas e transformar realidades. Espero, neste ano, com o retorno das atividades presenciais, poder estabelecer estas trocas nos espaços físicos também”.
Encontro de ideias
Com o objetivo de fugir do confinamento da pandemia, a estudante de Pedagogia Jeniffer Furtado entrou para a EPA, onde encontrou amigos e teve seu horizonte ampliado. A graduanda, que estuda teatro desde os 6 anos e já era conhecida no IM por ser atriz, decidiu usar seus conhecimentos na área e dividi-los em oficinas da Escola.
De início, foram ofertados cursos de uso do corpo teatral que, durante o período pandêmico, tinha uma média de 10 alunos matriculados, dentre entusiastas do teatro, atores e não-atores acima dos 16 anos. “Nos encontros dividíamos a parte prática com exercícios, jogos teatrais feitos de maneira online e momentos teóricos nos quais os alunos estudavam sobre Teatro do Oprimido de Augusto Boal e Arquétipos do inconsciente por Carl Jung” contou.
Durante o curso online, Jeniffer recebeu alunos do Norte do país, o que, presencialmente, seria inviável. Para ela, seria interessante que projetos futuros da Escola Popular pudessem englobar eventos online para alcançar pessoas de todas as partes do Brasil. “A EPA se mostrou um lugar de encontro de ideias, acolhimento e expressão. Estou ansiosa para as oficinas e movimentos artísticos agora no presencial. É importante que os alunos e membros da comunidade externa sejam atendidos artisticamente. Este projeto é um local para conhecer outros artistas, para se inspirar e aprender”, apontou.
Desenvolvimento artístico e pessoal
Graduado em Letras e mestrando em Educação, o discente Leandro Rodrigues já ministrou oficinas sobre Clarice Lispector, gênero e sexualidade, sobre o Padre Antonio Vieira no século XVII e aulas voltadas para a escrita acadêmica e a gramática normativa da língua portuguesa para TCC, dissertação e teses. “Geralmente, no nosso grupo entram cerca de 100 alunos, mas, efetivamente, acabam participando umas 50 pessoas por oficina. Quando começamos, antes da pandemia, de forma presencial, a primeira aula tinha apenas seis alunos”, comentou.
Atualmente, Rodrigues está no projeto como voluntário e, desde a criação da EPA, já ministrou 15 oficinas que, normalmente, ocorrem com cerca de quatro encontros cada. “E elas não são só voltadas para a prática e a técnica, como as de escrita, que vão ter uma utilidade na cotidianidade do graduando, mestrando ou doutorando, ou para o mundo das artes, como as de literatura. Também ofereço oficinas para o autodesenvolvimento, autorrealização, educação pessoal e meditação”, complementou.
Para o mestrando, a EPA ganhou ainda mais importância após a pandemia, já que o público foi expandido. “Tivemos um aumento significativo no índice de participação, porque as pessoas estavam em casa, não tinham muito o que fazer, então nessa impossibilidade de poder sair, elas encontraram na EPA uma maneira de extravasar na arte e não deixar a vida parar”, argumentou.
Qualificação profissional
Os cursos ministrados pelo discente ajudaram ainda na qualificação dos alunos da EPA. “Teve uma aluna da Paraíba que conseguiu um trabalho em uma escola a partir de uma das oficinas que eu ministrei, que era de literatura africana, e um dos critérios do processo seletivo era justamente um curso na área. Fiquei muito contente com aquilo, pois é algo que acaba servindo para a educação profissional e tecnológica, além de implementar o currículo daquele profissional”, ressaltou.
Dos cerca de 50 alunos que passaram por um dos ciclos, Rodrigues comenta que apenas 15 eram do Sudeste do país e o restante vinha do Norte e do Nordeste. “Tinha gente do Amazonas, Pará, Rio Grande do Norte e interior do Ceará. Hoje, a gente tem esse público muito diversificado. A EPA tem extrema importância para o tripé da Universidade de ensino, pesquisa e extensão. E é um projeto que contempla muitas pessoas, que leva a Rural muito além dos seus muros. Conseguimos atingir outros estados com recursos muito simples, os bolsistas e as ferramentas de videoconferência”, finalizou.
Texto: Lidiane Nóbrega e Roberto Jones – bolsistas de Jornalismo da Proext/UFRRJ.