O que dizem os especialistas sobre a inserção do ensino online na vida dos estudantes neste contexto
da Redação da Coordenadoria de Comunicação Social/UFRRJ
A necessidade de isolamento social, como forma de conter a propagação da doença do novo coronavírus, provocou a suspensão das aulas no início do ano letivo em escolas e universidades brasileiras. A pandemia trouxe inúmeras incertezas, entre elas não saber quando será seguro retornarmos ao ambiente das salas de aula. A indefinição sobre o tempo que ainda teremos de ficar isolados impulsionou instituições de ensino – do fundamental ao universitário – e o Ministério da Educação (MEC) a assumirem rapidamente o ensino a distância como o meio viável para continuar a rotina dos estudantes em formação.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), como a maioria das universidades federais brasileiras, não aceitou a sugestão da Portaria 343/2020 do MEC, que autoriza a “substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus”. Para tomar a decisão, publicada em 20 de março, a Administração Central considerou elementos como o grande número de estudantes com vulnerabilidade socioeconômica, sem recursos tecnológicos necessários para acesso a conteúdos ministrados na modalidade a distância; a exclusão das pessoas com deficiência; e a falta de planejamento para operacionalização do ensino em meios digitais.
Como estudioso dos processos de ensino online, o professor Marcelo Almeida Bairral, do Departamento de Teoria e Planejamento de Ensino (DTPE/UFRRJ), avalia que é preciso construir os planos de ensino e aprendizagem com objetivos claros e cautela.
“Temos que ter muito cuidado com um oportunismo e aligeiramento nos processos de ensino e de aprendizagem, que precisam de planejamento rigoroso, com equipe multidisciplinar, profissionais preparados para atuar em modelos híbridos, sistemas informáticos adequados ao que se pretende etc. Trata-se, como qualquer planejamento, que implica em um desenho didático feito antes de uma ação formativa, adequado ao público e ao contexto de formação”, explicou Bairral, que coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas das Tecnologias da Informação e Comunicação em Educação Matemática
O docente destaca ainda a necessidade de um planejamento cuidadoso, que potencialize formas diversas de interação e comunicação, além de considerar as avaliações e os objetivos da adoção das práticas a distância na escola: “Uma atividade online – simples ou mais complexa – não pode ser uma ação feita da metade para o final do caminho, e sem que se saiba onde quer chegar. Todo cuidado é pouco, pois educação online também é importante e potencial, mas ela não pode continuar sendo refém de oportunismos.”
A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) também se manifestou contrária à portaria do MEC. Em nota publicada no site da associação, a Anped ressalta o caráter complexo da implementação do ensino online, sem considerar as especificidades de cada instituição e a desigualdade socioeconômica do país. A entidade também chama a atenção para a arquitetura do ensino a distância: “EaD exige currículos, didática e condições que não são de domínio ou estão à disposição de todos e todas. Reduzi-la à adaptação de atividades no formato online é empobrecer o processo ensino-aprendizagem e desqualificar a EaD e a docência. Não existem condições materiais, nem acadêmicas, para substituir os componentes curriculares presenciais por atividades a distância de uma forma afoita, inicialmente pela dinâmica de cursos que não foram pensados para o contexto da EaD.”
As aulas presenciais suspensas por tempo indeterminado e as ações para a manutenção das atividades intelectuais dos alunos mostram que serão imprescindíveis paciência e observação sistematizada sobre os desdobramentos que a pandemia trouxe para as rotinas de professores, estudantes e suas famílias.
Para saber mais:
ASSIS, A., & MARQUES, W. (Eds.). (2017). Ambientes virtuais e formação de professores: deconstruções individuais às interações coletivas (eBook) (Vol. 8). Seropédica: Edur. Disponível em: https://bit.ly/2UOIVwF
BAIRRAL, M. A. (2018). Discurso, Interação e Aprendizagem Matemática em Ambientes Virtuais a Distância. Seropédica, RJ: Editora da UFRRJ. Disponível em: https://bit.ly/2JKJKQQ
SANTOS, E., & SILVA, M. (2009). Desenho didático interativo. Revista Iberoamericana de Educación(49), 267-287. Disponível em: https://rieoei.org/historico/documentos/rie49a11.pdf