No mês passado, a notícia de que o cão de uma paciente chinesa havia apresentado contaminação leve pelo novo coronavírus trouxe dúvidas sobre a relação dos animais de companhia com a propagação da doença.
O médico veterinário e professor Clayton B. Gitti, do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública do Instituto de Veterinária da UFRRJ, nos enviou uma nota com respostas aos principais questionamentos que têm surgido.
Nota à comunidade da UFRRJ
É de conhecimento de todos que estamos passando por um momento delicado por conta da ocorrência da Síndrome Respiratória Severa Aguda provocada pelo denominado SARS-Cov-2.
Governos das três esferas administrativas passaram a adotar medidas restritivas como forma de reduzir a capacidade de disseminação deste vírus. São medidas bastante eficientes, pois a via de transmissão predominante deste vírus ocorre diretamente de pessoa para pessoa, por gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra e, secundariamente, de forma indireta através do contato com objetos contaminados por secreções respiratórias de pessoas doentes, tais como: maçaneta, corrimão, copos, talheres e etc.
Recentemente uma publicação noticiou que foi isolado o SARS-Cov-2 no cão de uma paciente com a doença e, nesse sentido, viemos aqui fazer alguns esclarecimentos:
– Existem na natureza diferentes “coronavírus” que infectam mamíferos, pássaros e peixes produzindo uma grande variedade de doenças entéricas, respiratórias e neurológicas, dentre outras. O coronavírus canino que pode causar diarreia e o coronavírus felino que pode causar peritonite infecciosa felina (PIF), por serem doenças comuns nesses animais, são muito conhecidos pelos Médicos Veterinários. No entanto, esses coronavírus específicos de cães e gatos não estão associados ao atual surto de coronavírus.
– A propagação atual do SARS-Cov-2 é resultado da transmissão de humano para humano. Até o momento, não há evidências de que animais de companhia possam espalhar a doença. Portanto, não há justificativa para tomar medidas contra animais de companhia que possam comprometer o bem-estar destes animais.
– Embora não tenha havido relatos de animais de estimação ou outros animais adoecendo pela COVID-19 (“Doença do Coronavírus 2019“), é recomendável restringir o contato de pessoa doente com a COVID-19 com animais de estimação, assim como faria com outras pessoas. Um animal de estimação pode carrear o vírus em seus pelos e, ao entrar em contato com outros membros da família, pode repassar o vírus de forma indireta, da mesma forma que os objetos contaminados citados acima.
Redes sociais não são fontes seguras de informação. Querendo informações corretas sobre a doença e sobre o envolvimento de animais de estimação consulte:
https://coronavirus.saude.gov.br/
Clayton B. Gitti – Professor Associado do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública do Instituto de Veterinária da UFRRJ.