Por Miriam Braz (CCS/UFRRJ)
“Eles conseguiram, finalmente, trazer a gente para o século XXI”. É assim que o professor Hélio Ricardo da Silva, do Laboratório de Herpetologia do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS/UFRRJ), refere-se à conclusão da primeira etapa do convênio firmado com o Laboratório de Física Aplicada às Ciências Biomédicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).”
“Nossas técnicas mais tradicionais de análise de amostras de girinos foram complementadas por imagens tridimensionais ricas em detalhes e produzidas em laboratórios de alta tecnologia no Brasil e na Itália. O salto em nossas pesquisas é gigantesco, e somente a primeira fase do convênio gera informação para anos de pesquisa de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado”, declara o professor do ICBS.
A interação entre os dois grupos existe desde 2016, quando o responsável pelo Laboratório de Física Aplicada às Ciências Biomédicas da Uerj, professor Marcos Vinicius Colaço, veio à Rural assistir à defesa de monografia de seu irmão, o estudante de Biologia Gustavo Colaço, orientado por Hélio Silva. Marcos já trabalhava usando técnicas da Física para colaborar com ciências como Farmácia, Medicina e Biologia em outras instituições, e ofereceu ao professor Hélio a possibilidade de ver algumas estruturas com auxilio de técnicas de microtomografia.
Proposta aceita e, desde então, as amostras de girinos da Coleção de Herpetologia da Rural foram medidas em tomógrafos nos Laboratórios de Luz Sincroton (LNLS – www.lnls.cnpem.br), em Campinas/SP e também na Itália. “Depois que esgotamos todas as técnicas e não conseguimos os resultados satisfatórios nos laboratórios comuns, recorremos aos LNLS. Usamos em Campinas um microtomógrafo que tem capacidade de detectar a estrutura de um milionésimo do metro. No Hemisfério Sul há apenas dois LNLS, sendo um no Brasil e outro na Austrália. Normalmente esses laboratórios se interessam pelos nossos trabalhos e financiam nossa ida, permanência necessária e estudo”, afirma o professor Colaço.
O primeiro artigo resultante desta interação entre a Biologia da Rural e a Física da UERJ foi publicado no último dia 17 de maio no Journal of Instrumentation (leia em https://bit.ly/2KiJISg), uma revista focada no desenvolvimento de instrumentação para novas amostras. Ele foi escrito por Regina Cely Rodrigues Barroso e pelos estudantes de doutorado Gustavo Colaço (UFRRJ) e Gabriel Fidalgo (Coppe/UFRJ) – orientados respectivamente pelos professores Hélio Silva e Marcus Vinicius Colaço.
“Para conseguirmos mostrar detalhes de observação difícil e usualmente destrutiva para o espécimen – como, por exemplo, a estrutura do olho de um girino – com o emprego das nossas técnicas da Física usamos apenas 50% de amostras. Então, será necessário danificar menos girinos para o estudo”, explica Marcus Colaço.
O segundo objetivo dos pesquisadores tem foco biológico: utilizar a riqueza de detalhes obtidos para estudos morfológicos comparados com amostras de diferentes espécies. Entre as informações que esperam levantar, serão analisadas amostras de estruturas larvais semelhantes a ossos e seu desenvolvimento.
As novas informações das amostras analisadas pelo grupo serão usadas na subdisciplina de Sistemática, área da Zoologia que se utiliza de Morfologia no estudo clássico da Biologia. “Nossa ideia é que estas informações interessem aos alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado”, conclui o professor Hélio Silva.
Os dois docentes responsáveis pelo convênio acadêmico, que ainda não foi oficializado, acreditam que a interação entre as áreas de Física e Biologia está sendo tão boa que, em breve, um estará oferecendo disciplinas na instituição do outro. Eles deixam claro que o interesse é compartilhar o conhecimento e a informação, estimulando cada vez mais os estudantes para que se tornem pesquisadores.