Por Leandro Silva (*)
Ser escritor no Brasil é um desafio. Com pouco incentivo em um mercado difícil e fechado, aqueles que almejam ascender por meio da escrita enfrentam diversas barreiras. Uma delas é o fato de o brasileiro ler pouco.
De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro (2016), o brasileiro lê em média, por ano, apenas 2,43 livros. O estudo ainda revela que cerca de 30% da população do país nunca comprou um livro. Esses dados podem ser mais bem compreendidos quando se observa que cerca de 12 milhões de brasileiros são analfabetos. Os números são indicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no censo de 2017. Muitos cidadãos crescem sem o hábito da leitura no meio familiar, papel que a escola não consegue preencher.
Ainda assim, existem pessoas que não desistem de escrever e lançar suas publicações. Sandro Schütt, 25 anos, é natural de Capão Bonito, interior de São Paulo. Graduado em jornalismo na UFRRJ, atualmente é editor de conteúdo do site “Amazônia Latitude”. Em maio deste ano, ele lançou seu primeiro livro: “Crônicas do Asfalto”. Com ambientação no interior paulista, a publicação se passa ao longo da década de 2010, e retrata em oito contos as vivências da juventude local de maneira “crua e direta”.
Quando perguntado sobre o processo de procura por uma editora, Sandro conta que não é tão complicado. Ele enfatiza que, atualmente, existem diversas editoras independentes que recebem obras originais para avaliação e publicação.
Para os que estão começando, Sandro deixa a dica: “O autor iniciante deve ter em mente que editoras são empresas, e elas provavelmente vão te cobrar algo. Também deve manter em perspectiva o fato de que é sua estreia, provavelmente ninguém te conhece. Assim, você ficará responsável pelo marketing e pela venda dos seus próprios livros”.
Sonho de criança
Outra iniciante no meio é Mariangela de Campos Dias. A servidora da UFRRJ, câmpus Seropédica, lançou seu primeiro livro em março. “As Histórias da Mari” traz uma série de experiências pessoais da autora. Ela conta que sempre teve vontade de escrever um livro: “Desde criança! Nem sabia qual seria o tema, o enredo, mas tinha essa vontade. Parecia algo inatingível, porque eu não fazia ideia sobre o processo”.
Mariangela escrevia nas redes sociais, sem maiores pretensões, e começou a receber incentivo de pessoas que elogiavam sua escrita. “Escrevia coisas que julgava engraçadas ou delicadas. O meu sonho de criança voltou com toda força!”, revelou.
Após avaliar as chances do mercado, ela optou por buscar uma editora independente. “Algumas pessoas pensam que publiquei o livro pela Edur – Editora da UFRRJ – onde eu trabalho. Mas não! Esta é uma publicação totalmente independente”, afirmou.
Ao pensar no que mais causou dificuldade em todo o processo, Mariangela reforça o que já foi dito por Sandro Schütt: a propaganda e a distribuição do livro ficam sob a responsabilidade do escritor. “Isso dificulta muito o trabalho de divulgação de quem é totalmente desconhecido no mundo literário”.
Buscando outros meios além das redes sociais, Mariangela também criou um site, o www.ashistoriasdamari.com.br. O livro também foi divulgado em livrarias que oferecem espaço para propaganda.
Como observador da trajetória de escritores iniciantes, o professor de Literatura Marcos Estevão Gomes Pasche, do Departamento de Letras e Comunicação (ICHS/UFRRJ), aponta que a participação em prêmios literários é também um caminho para o reconhecimento. “Como a literatura não é um produto de grande disseminação midiática, o mercado para novos escritores é bastante restrito em termos de absorção e, mais ainda, de promoção. Dois caminhos viáveis costumam ser a publicação independente – por meio da qual quem escreveu se encarrega dos custos da edição e do trabalho de divulgação – e a participação em prêmios literários, pois muitos deles garantem a publicação em livro dos textos vencedores. Pelo que diz e pela maneira como pede para ser ouvida, a literatura é um corpo estranho nas convenções sociais. Convém, portanto, que autoras e autores iniciantes tenham em mente que quase sempre a aposta deve ser para longo prazo”, avalia Pasche.
(*) Bolsista de jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)
Publicado originalmente no Rural Semanal 07/2019