Culturas que se baseiam na multiplicidade étnica são diversas, ricas em manifestações e potencialmente solidárias. No Brasil, somos indígenas, africanos, europeus e asiáticos. Entretanto, ao longo dos séculos, as desigualdades e preconceitos gerados pela nossa formação social escravista geraram cisões quase intransponíveis em nosso tecido social. Infelizmente, nos dias atuais, essas forças se manifestam ainda com maior vigor e violência.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro não está isolada da sociedade, portanto está sensível a essas tensões. Nós, formadores de cidadãos críticos, precisamos ter a capacidade de identificar e corrigir nossas distorções. Racismo, xenofobia e misoginia, assim como apologia do fascismo e das intolerâncias política e religiosa são práticas inaceitáveis no ambiente universitário. Uma vez detectadas, a instituição deve agir através de seus mecanismos. De um lado é fundamental a atuação de grupos organizados para conscientização, voltados à promoção de mudanças culturais pautadas na superação desses problemas estruturais. De outro, é importante a criação e aplicação de instrumentos internos para a apuração rápida de desvios de conduta e, quando forem identificadas ações tipificadas como crimes, encaminhar os processos às instâncias externas pertinentes.
Recentemente aprovamos na UFRRJ, após amplo debate, o Código de Conduta Discente, que define todas as manifestações já citadas como infrações gravíssimas. Denúncias podem ser encaminhadas à Ouvidoria (ouvidoria@ufrrj.br) ou às direções dos respectivos institutos. Constatada a materialidade dos fatos, um processo de sindicância é aberto para sua apuração, assegurado o amplo direito ao contraditório e à defesa, a fim de que responsabilidades e eventuais punições possam ser determinadas.
É fundamental que esses procedimentos sejam seguidos, a fim de evitar atitudes como a exposição indevida de acusados antes da devida apuração. Essas condutas, igualmente, podem caracterizar infrações disciplinares e até mesmo crimes, como calúnia e difamação.
O respeito às regras e aos procedimentos institucionais é o caminho para enfrentarmos internamente a onda de intolerância, que, infelizmente, cresce a cada dia no nosso país. Como Paulo Freire sempre alertou em seus estudos, não podemos cair na tentação de reproduzirmos as práticas de nossos opressores. A intolerância, os sectarismos e a violência não fazem parte dos nossos valores nem da sociedade que buscamos construir.
Reitoria da UFRRJ