PET-História lança livro com artigos sobre Seropédica e Itaguaí
Por João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Em seu trabalho, os historiadores costumam articular a análise de fatos mais amplos (contexto econômico e político, por exemplo) com processos locais e trajetórias individuais. Esse diálogo entre as dimensões ‘micro’ e ‘macroestruturais’ dos fenômenos sociais é um dos focos do Programa de Educação Tutorial (PET) da História/UFRRJ. Um dos principais objetivos desse grupo, criado em 2007, é estimular os estudantes a pesquisarem a história da área onde se encontra a Universidade, partindo da investigação e catalogação de fontes regionais. Comemorando uma década de intensa atividade, o PET lança neste ano o livro ‘Trilhas: a construção social e histórica de Itaguaí e Seropédica’ (Edur), que reúne artigos de quatro gerações de ‘petianos’ – como são chamados os alunos que integram o Programa. O lançamento da obra será feito durante a VIII Jornada PET de História, que acontece entre 19 e 21 de junho.
O livro foi organizado pelas três tutoras que passaram pelo PET: as professoras Margareth Gonçalves, Adriana Barreto e Fabiane Popinigis, do Departamento de História e Relações Internacionais (DHRI) e do Programa de Pós-Graduação em História (PPHR). A publicação também atende ao desejo da comunidade, carente de pesquisas acessíveis sobre o passado da região. “Descobrimos que as pessoas sabem muito pouco da história local. Isso também se deve à escassez de material de fácil acesso”, disse Fabiane Popinigis, atual tutora do Programa. “Tivemos muita procura de todos que trabalham com cultura em Itaguaí e Seropédica. E também do bairro de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio”.
Além de apresentar resultados inéditos de pesquisa, a obra traz as experiências dos integrantes da equipe com o uso de fontes históricas em escolas de Itaguaí e Seropédica. Segundo a professora Popinigis, isso reforça outra missão do PET: promover o diálogo entre ensino, pesquisa e extensão. “Os graduandos daqui queriam muito isso: ter contato com as escolas e com a experiência do ensino de história. Nessas oportunidades, eles buscaram mostrar para os estudantes, em sala de aula, como é o trabalho do historiador, e o que está por trás da produção do livro didático”, afirmou a tutora. “Para o lançamento do livro, na Jornada, vamos inclusive convidar os professores da região”.
Novas trilhas historiográficas
O livro é composto por cinco artigos. No primeiro texto (‘Trilhas: os dez anos do PET-História da UFRRJ’), as organizadoras fazem uma retrospectiva do Programa, que foi o segundo do gênero criado na Rural (depois do PET de Física). O projeto nasceu com o nome ‘PET – Práticas de História: dos arquivos para a sala de aula’, já com o objetivo de investigar o passado da região. A partir daí, a equipe começou o trabalho com registros de batismos e óbitos da Cúria de Itaguaí (Igreja Católica) produzidos, sobretudo, durante o século XIX – mas alguns livros vão até o início do XX. A documentação foi digitalizada e catalogada, dando origem a planilhas que estão sendo adaptadas a um banco de dados.
Os artigos escritos por petianos e ex-petianos têm como base a análise dessa documentação. “O banco de dados abre portas para pensar em outras questões, possibilitando o amadurecimento nossas pesquisas”, disse o graduado Vinícius Brito, que investiga a história da Imperial Companhia Seropédica Fluminense, a fábrica de seda criada no final da década de 30 do século XIX.
O trabalho do PET-História abre também novas trilhas na historiografia, dominada por estudos das áreas centrais. Assim, alguns ex-integrantes aprofundam temas iniciados no grupo, como é o caso da mestra em História pela UFRRJ, Ana Cláudia Ferreira, autora do texto sobre o direito indígena à terra em Itaguaí (1845-1856). “É bom saber que o PET está disseminando pesquisas sobre a região. Temos trabalhos de outras universidades, é claro, mas nosso grupo vem produzindo boa parte dos estudos sobre a Fazenda Santa Cruz [que no passado incluía Itaguaí e Seropédica]”, explicou Amanda Souza, estudante do 8° período de História e integrante do PET.
Para a discente Joyciene Fagundes, do 5° período, a entrada no Programa significou também um conhecimento maior sobre as raízes de sua cidade natal: “Eu sou de Itaguaí, e desde o primeiro período já sabia que eu queria conhecer a história local. Quando eu entrei no PET, foi um mundo de conhecimento que se abriu. Descobri que não sabia nada sobre minha cidade.”
Para saber mais sobre o PET, acesse o blog http://pethistoriaufrrj.wixsite.com/pethistoria. No site http://pethistoriaufrrj.com.br/ é possível acessar o banco de dados criado a partir dos documentos da Cúria itaguaiense.
Publicado originalmente no Rural Semanal 04/2018