Grade de horários que não permite tempo livre, preocupação com a formação acadêmica, a galera que estagia ou trabalha e os valores das competições – que não são baratos – são as principais barreiras para que estudantes se envolvam com o esporte dentro da UFRRJ, como também em outras universidades. Mesmo assim, o prazer pela prática esportiva e o desejo de ver o curso e a universidade representados nas principais competições levam os discentes a superarem todas essas dificuldades. Um caminho que a Atlética de Comunicação e Artes da Rural tomou.
A ideia da Acsar, como também é conhecida, surgiu de uma conversa dos estudantes Bruno Todaro, Augusto Araújo e Lucas Meireles, todos do quinto período de Jornalismo na UFRRJ, no final de 2016, sobre a vontade de disputar torneios e a ausência de uma atlética do curso. O desejo foi ganhando força e adeptos. Até que, em agosto de 2017, após várias etapas junto à Pró-Reitoria de Extensão (Proext) e à Atlética Central da Universidade Rural (Acur), o projeto se concretizou.
No início, formada apenas por estudantes de Comunicação Social e com seis membros na diretoria executiva, a Atlética enfrentou algumas dificuldades. Era preciso ter local para os treinos e equipes para participarem das competições que viriam. Os estudantes se mobilizaram e conseguiram reservar as quadras do Ciep Maria Joaquina, no Km 49, e do Colégio Presidente Dutra, em frente ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS). O material esportivo foi cedido pelo Departamento de Esporte e Lazer (DEL/Proext). O primeiro passo havia sido concluído com sucesso.
Os Jogos Universitários de Comunicação Social (Jucs), principal torneio da área, serão realizados mês que vem, em Vassouras/RJ. O presidente da equipe, Bruno Todaro, esteve na edição de 2017 e descobriu que o curso de Belas Artes poderia participar dos Jucs. Mais tarde, nova surpresa: em reunião com a Atlética da Universidade Federal Fluminense (UFF), foi revelado que o curso de Arquitetura e Urbanismo também. Era o que o grupo queria para se fortalecer. Mas como havia certa urgência para iniciar a Atlética, só foi possível incorporar esses cursos em março de 2018. Hoje, a gestão da Acsar é formada por 23 estudantes, divididos entre os três cursos.
Bruno diz que e o objetivo é reunir o maior número de pessoas interessadas em disputar, torcer e vivenciar o esporte na universidade, destacando a integração dos cursos. “São outras realidades, outras experiências. Principalmente para nós, estudantes de Jornalismo, pois quanto mais contatos a gente tiver e levar para a vida é melhor”, completa.
Para o estudante de Belas Artes e diretor de torcida da Acsar, Cláudio Neves, a junção dos cursos proporciona uma interação maior entre as áreas, dando mais visibilidade para cada formação entre as outras dentro da Universidade.
Como a UFRRJ passa por dificuldades financeiras e estruturais, o estímulo da instituição ao esporte e à Atlética está longe do ideal, como alerta o diretor Adjunto de Esportes, Chrystian Fuentes: “Por parte da Universidade, não há muito incentivo. A galera participa pela afinidade que tem com o esporte. Por sermos de um curso noturno, nos sentimos muito prejudicados por não poder participar de competições, já que muitos atletas trabalham ou estudam entre a manhã e tarde. Não temos muitas alternativas neste caso”, conta o aluno do 7º período de Jornalismo.
Cláudio também reconhece a dificuldade para os horários de treino, mas ressalta o papel do esporte na graduação. “O esporte e a vida acadêmica precisam ser conciliados. É fundamental unir esses dois mundos”, afirma.
Uma das exigências dos Jucs é levar equipes para todas as modalidades da competição. Os valores são muito altos para o perfil dos atletas, o que retira dos estudantes que estão treinando a oportunidade participarem. O tempo pesa bastante também. Para que os alunos tenham a chance de se prepararem, treinos são remarcados ou realocados semanalmente, esbarrando nos horários de aula dos cursos noturnos. Além destes empecilhos, os estudantes de Jornalismo têm mais um compromisso na agenda: o Congresso de Ciências da Comunicação, o Intercom Sudeste, que acontece logo após os Jucs. Aí entra a questão da prioridade e da condição de cada indivíduo. Dentro da realidade, as duas coisas são quase impraticáveis.
Ao fim da gestão, Bruno Todaro diz não saber se a Atlética estará mais forte, consolidada, com pessoas interessadas e com maior número de atletas. Mas essa é a meta. “A gente não se dedica horas, dias e até semanas de trabalho para algo que termine depois de um tempo. A cultura do esporte nos nossos cursos não é tão forte. Não podemos imaginar que, em apenas seis meses, a galera se engaje. É preciso ter paciência. Que daqui a dez anos, quando já estivermos trabalhando, a gente veja a Acsar disputando de igual para igual as competições”, conclui o estudante.
Texto: Matheus Brito, estagiário da CCS/UFRRJ.
Foto: Mr. Crazy/Facebook.