Infestação de macrófitas nas represas entope turbinas geradoras de energia; objetivo da pesquisa é reaproveitar essas plantas
Por Victor Ohana, da Fapur
“Macrófita aquática” pode ser um nome esquisito, mas talvez você já tenha visto uma. Assim são chamadas as plantas que habitam brejos, rios e lagos, sobrevivendo numa boa até debaixo d’água. Um estudo aponta que o excesso desses vegetais nas represas dificulta o funcionamento de usinas hidrelétricas e gera prejuízos milionários. A pesquisa é do engenheiro agrônomo e professor Jorge Jacob, em conjunto com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a empresa de energia elétrica Light. O projeto teve início em 2015, com a colaboração da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Fapur).
As macrófitas aquáticas são muito comuns no Brasil. Entre os exemplos mais conhecidos, estão o aguapé, a alface d’água, a taboa e a vitória-régia. Essas plantas vivem principalmente nas margens dos mananciais, e podem estar presentes não só em locais de água parada, como os lagos, mas também em ambientes de água corrente. Segundo Jacob, esses vegetais crescem e se reproduzem com muita facilidade, podendo tomar conta de todo o manancial. O problema da infestação das macrófitas é que, quando se espalham em um local onde há usinas hidrelétricas, elas entopem com frequência as turbinas de geração de energia. O desentupimento dessas turbinas gera uma despesa anual milionária para empresas de energia no Brasil e no mundo.
Para descobrir formas de se evitar prejuízos com esse problema, a Light financia a pesquisa do engenheiro. O objetivo é estudar uma possibilidade de se retirar o excesso dessas plantas da Represa de Ribeirão das Lajes, do Rio Paraíba do Sul e de seus afluentes, no estado do Rio de Janeiro, com a proposta de que esses vegetais sejam reaproveitados de maneira ecológica.
“Onde se tem água com muita sedimentação orgânica, essas plantas se reproduzem muito rápido. Com isso, elas chegam às turbinas geradoras de energia elétrica e causam entupimento. Então, há um dispêndio enorme para se retirar essas plantas, tem que fazer barreira de contenção, usar guindaste e tudo mais”, conta o professor, do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “E é aí que entra a nossa parte: depois de retiradas, essas macrófitas vão para algum local. E esse local, onde é? Estamos falando de um volume muito grande de vegetais. O ideal é reaproveitar esse material. No caso da Light, que é uma empresa muito preocupada com o meio ambiente, há um grande esforço em fazer isso de forma responsável”, completa ele.
Pesquisa analisa aproveitamento de macrófitas como adubo
Segundo o professor, o estudo investiga se essas plantas podem ser utilizadas como adubo.
“Estamos tentando direcionar esses vegetais para o uso como adubo, adicionando nutrientes para que possamos eliminar as deficiências nutricionais e assim a planta adubada crescer”, explica Jacob. “Nós tínhamos medo da possibilidade de alta concentração de metais pesados nas macrófitas, por causa da poluição aquática. Mas o nosso trabalho mostrou que a concentração é baixa. Então, essas plantas podem ser utilizadas para outros fins”, diz ele.
Outro cuidado do projeto é compreender o impacto da retirada das macrófitas dessas águas. De acordo com o professor, outra equipe do projeto estuda esses impactos para que a retirada seja realizada de modo sustentável.
“Estuda-se, por exemplo, um percentual indicado para a retirada dessas plantas. Até porque a preocupação é com o excesso desses vegetais”, relata o agrônomo.
Já passaram pelo estudo um aluno de doutorado, um de mestrado, um de graduação e três iniciação científica. A pesquisa está em fase de conclusão, mas ainda há novas etapas depois dela.
Fapur teve papel essencial para o andamento do projeto, diz professor
A colaboração da Fapur foi fundamental para a conclusão do projeto, segundo Jacob. A Fundação ofereceu assistência na gestão financeira da pesquisa.
“Para o bom andamento do projeto, a Fundação cumpriu um papel essencial, que foi a gestão financeira. Sem isso, não seria possível continuar com o estudo”, comenta ele.