Ampliar o conhecimento acerca dos mais de 9 mil km² de área de recifes de corais na foz do Rio Amazonas é o principal objetivo do cruzeiro oceanográfico que ocorreu em julho, entre os estados do Amapá e do Maranhão. A UFRRJ participou da expedição que reuniu pesquisadores de outras cinco instituições brasileiras: UFRJ, Ufes, Unifesp, Inpe e JBRJ, em parceria com o Woods Hole Ocenographic Institution.
Os corais do Amazonas foram descritos por pesquisadores brasileiros, pela primeira vez, em 2016, numa publicação na revista Science Advances. A região onde o Amazonas se encontra com o Oceano Atlântico, na costa norte do Brasil, abriga um ecossistema marinho ainda pouco conhecido pelos pesquisadores. Com características muito particulares, os recifes são os únicos no mundo encontrados em águas com pouca luminosidade e na foz de um rio.
O professor Leonardo Neves, do Departamento de Ciências do Meio Ambiente da UFRRJ, no câmpus de Três Rios, destaca a importância da expedição: “Para se ter uma ideia das lacunas que ainda existem, até o ano passado não se conhecia sequer a dimensão e as características básicas dos recifes da foz do Amazonas. Estamos falando de um gigantesco sistema recifal localizado em áreas relativamente rasas com menos de 100 metros de profundidade”.
Durante a expedição, os pesquisadores coletaram dados geofísicos, físico-químicos e biológicos, além de amostragens para caracterizar comunidades de peixes e de organismos que ocorrem próximo ao fundo, os chamados organismos bentônicos. Também foram coletadas rochas carbonáticas para subsidiar estudos sobre a história evolutiva dos recifes amazônicos, bem como amostragens da água do mar para estudos do plâncton e das características físico-químicas dessa região ímpar da costa brasileira.
Foram realizadas mais de 20 horas de observações a bordo de dois submersíveis, em profundidades de até 400 metros. Com a análise das fotos e dos vídeos gerados com o uso dos submersíveis será possível identificar as diferenças na composição de espécies ao longo dos corais de recifes, verificar em qual região foi encontrada a maior diversidade e quais são as características do habitat e da água que mais influenciam a distribuição e a abundância das espécies.
Os pesquisadores percorreram o local a bordo do navio Alucia, durante 15 dias, acompanhados por um oficial da Marinha do Brasil. As atividades foram complementadas por imagens de satélites recebidas no navio em tempo real. Os resultados irão fornecer um panorama detalhado sobre a estrutura dos recifes e das comunidades biológicas a eles associadas, inclusive com a caracterização de vales e cânions ainda não mapeados e com o imageamento das bioconstruções carbonáticas e das algas calcáreas da região.
Especialista em Ecologia Marinha e Biologia de Peixes e integrante da Rede Abrolhos, que se dedica ao estudo dos sistemas recifais brasileiros, o professor Leonardo Neves explica sua participação na expedição: “Meu papel foi amostrar as comunidades de peixes e de organismos que compõem os bentos, como corais, algas e esponjas. Após cada mergulho, a expectativa era grande para ver o que as câmeras tinham registrado; nunca se sabia ao certo quais espécies seriam vistas lá embaixo”.
Existe um interesse crescente na Margem Equatorial brasileira, tanto para a exploração de petróleo e mineração, quanto para a pesca artesanal e industrial. No entanto, o manejo dos recursos naturais na região ainda é incipiente, principalmente em função da carência de dados sobre a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas. De acordo com o professor Leonardo Neves, a expedição tem o objetivo de cobrir algumas dessas lacunas.
“Os dados que estamos coletando e processando contribuem decisivamente no sentido de identificar quais são as áreas mais prioritárias para a conservação da biodiversidade, bem como identificar as áreas onde se poderão estabelecer atividades econômicas com menor impacto ambiental”, afirma.
São estas as instituições brasileiras participantes da expedição: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); e Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ).