Os novos calouros do Instituto Multidisciplinar (câmpus Nova Iguaçu), além dos veteranos, foram recepcionados nesta segunda-feira, dia 14/8, pelo Magnífico Reitor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Prof.Dr. Ricardo Berbara. Ao dar as boas-vindas, ele abordou a conjuntura atual de crise do país, traçando um panorama sombrio de cortes de investimentos orçamentários para as universidades públicas federais.
O tema da Aula Magna Inaugural do instituto foi “O Custo da Oportunidade”, cujos palestrantes foram o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRRJ, Professor Alexandre Fortes, e a professora, antropóloga e dançarina Katya Wesolowski, da Duke University-EUA.
Além do Reitor Ricardo Berbara, a mesa de abertura do evento foi composta pelo vice-diretor do IM, Prof. Dr. Marcos Benac, o Pró-Reitor de Graduação, Prof.Dr. Joecildo Francisco Rocha, a Pró-Reitora Adjunta de Extensão, Profª Drª Gabriela Rizo, representando o Pró-Reitor de Extensão, Prof. Roberto Lélis.
Quem também fez uma breve saudação aos novos estudantes do IM/UFRRJ foi a aluna do 8º período do curso de Pedagogia, Carine Resende, representando o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Ela conclamou os calouros a participarem das atividades estudantis desenvolvidas pelo diretório, na luta pela manutenção do ensino público, gratuito e de qualidade no país, além da ampliação do acesso dos estudantes da Baixada Fluminense ao ensino superior.
IM – referência em produção de conhecimento
Em seu pronunciamento, o Profº Berbara elogiou o desempenho acadêmico do IM ao longo dos anos, o qual, segundo ele, tornou-se um dos mais produtivos institutos na área das Ciências Humanas e Sociais, com uma vertente muito forte na área da Geografia e da Ciência da Computação. O Reitor assinalou que o IM construiu durante esses 10 anos diversos projetos nacionais, que integram o instituto dentro da universidade, no país e fora dele, como a parceria com a Universidade de Duke, nos EUA. Ele fez uma séria advertência aos presentes sobre os atuais rumos políticos tomados recentemente pelo Brasil. Segundo o Reitor da Rural, não devemos ter nenhuma ilusão de esperança quanto ao cenário que estamos vivendo hoje no país, incluindo aí o contexto enfrentado pela UFRRJ. Berbara acrescentou que o golpe de 2016 não foi dado apenas para derrubar a ex-presidenta Dilma Rousseff, desrespeitando o resultado das urnas, que a elegeram com 52 milhões de votos. O golpe ultrapassou a própria ofensa ocorrida no campo da democracia em nosso país, e se insere num projeto de construção de um novo modelo político de país, com perfil excludente e onde o setor público é destruído. Ele também afirmou que esse novo modelo não permitiria o surgimento do IM, que é um projeto tipicamente de inclusão social, construído nos últimos doze anos. Graças a ele, a UFRRJ cresceu de tamanho, passando de 5 mil para 20 mil alunos, além do fato de termos triplicado o número de professores. O Reitor denunciou que é esse projeto de inclusão social é que está sendo colocado em xeque no atual cenário político brasileiro. Isso sem falar na barbárie institucional que o golpe trouxe à tona, como as restrições ao habeas corpus e à presunção de inocência, a condução coercitiva, a delação premiada e outros ataques ao Estado Democrático de Direito.
Por tudo isso, o Reitor da UFRRJ enfatizou que a universidade, por se constituir numa das poucas caixas de ressonância na Baixada Fluminense, não perde chance alguma para denunciar esse quadro caótico que se abateu sobre o Brasil, com a Saúde e a Educação Pública em crise, a Previdência sendo sucateada para depois ser privatizada. Isso sem falar na existência de 14 milhões de desempregados, como conseqüência dessa conjuntura adversa e anti-povo que estamos enfrentando. A saída para esse enfrentamento, segundo ele, é ampliar nosso olhar para o entorno da universidade, buscando parcerias com movimentos sociais e com os excluídos da sociedade.
Fenômeno mundial
O Professor Ricardo Berbara é de opinião que esse fenômeno atual do país nada mais é do que fruto do que também ocorre no exterior, onde uma nova cultura, a do “medo do outro”, se dissemina rapidamente pelos quatro cantos do planeta. E no Brasil, essa concepção ideológica do “eu individualizado”, distanciado dos demais em função de aspirações pessoais, vem se impondo a partir dessa cultura introduzida a partir do golpe de Estado, que deve ser combatida também no âmbito acadêmico. Ele revelou que a UFRRJ, assim como todas as universidades públicas federais tiveram um corte de 40% este ano em sua capacidade de investimento. E em 2018, haverá um novo corte no valor de 5 milhões de reais no orçamento da Rural, o que vai levar a um esforço geral na busca de ideias e projetos para sair da crise e derrotar esse modelo excludente e injusto. É no campo da disputa por ideias e projetos que vai se dar o enfrentamento para superar esse contexto gerado pela crise, não só no Brasil, como também no continente americano e em todo o mundo.
Por fim, ele lembrou que é nos momentos mais graves que a universidade pública soube dar respostas que ajudaram o país a sair dos impasses políticos e econômicos ao longo da História. E nessa conjuntura, o desafio para os novos alunos, servidores, professores e técnicos é a criação de uma rede de solidariedade, que integre os departamentos e cursos na busca de ideias e projetos que se contraponham a avalanche do modelo neoliberal e excludente.
O orador seguinte foi o vice-diretor do IM, professor Marcos Benac. Ele saudou com boas-vindas os novos estudantes e todos os servidores técnico-administrativos e destacou a importância do IM como polo de produção de conhecimento, tecnologia e produção acadêmica da UFRRJ. Ele também se mostrou preocupado com o cenário político e econômico de crise que o estado do Rio de Janeiro e o país atravessam. E aproveitou para fazer um chamamento à dedicação e à responsabilidade pelo trabalho, num esforço unitário no pensar, produzir e refletir, para sair da crise.
O Pró-reitor de Graduação,Prof. Joecildo Francisco Rocha começou sua fala destacando o momento especial de chegada de novos alunos à UFRJ para a vida deles e da própria instituição. Ele recomendou que os calouros busquem na academia não apenas o conhecimento técnico, mas também a formação cidadã tão necessária para a vida em sociedade. Ele apontou como fundamental as parcerias da universidade com instituições como a Duke University, buscada pelo Professor Alexandre Fortes na época em que foi diretor do IM. Ele ressaltou a presença no instituto das diversas coordenações de programas, como o PIBID, o Parfor, o Programa de Acessibilidade e Inclusão, o PPGPACS, o PPGEduc, saudando a presença no evento de todos os coordenadores de cursos do Instituto Multidisciplinar.
A oradora seguinte foi a Profª Gabriela Rizo, Pró-Reitora adjunta de Extensão, que representou o Pró-Reitor de Extensão, Prof. Roberto Lélis. Ela chamou a atenção dos novos ingressantes para o fato do aprendizado e a percepção do conhecimento nos formarem como indivíduos pensantes e não apenas para ascender socialmente mas também para nos formar como seres humanos e solidários. Aqui, teremos a chance de mostrar o que temos de melhor para a sociedade, ajudando a construir um mundo mais justo.
A segunda mesa foi composta pelo Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Prof. Alexandre Fortes, pelos Professores John French e Kátia Wesolowski, ambos da Duke University (EUA). Integraram também a mesa o cineasta, rapper , educador comunitário e fundador da ONG Enraizados, Dudu do Morro Agudo e a aluna da Duke University, Stephanie Reist. Ambos produziram o filme “The Coast of Opportunity”, exibido no final do evento.
O “Custo da Oportunidade”
Esse foi o tema da palestra do Pró-Reitor Alexandre Fortes. Ele informou que começou a trabalhar com essa expressão a partir do projeto de pesquisa cooperativa, que vem sendo desenvolvido com a Duke University já há alguns anos. E que guarda uma relação com todo o empenho feito pelas famílias, pelos estudantes e movimentos sociais em defesa da Educação Pública, no sentido de garantir a expansão do acesso democratizado dos jovens à universidade pública, e assim construir uma possibilidade de futuro melhor para os filhos dos trabalhadores e para o país. O professor Fortes assinalou que a ideia é construir um movimento que possa resistir a essa conjuntura adversa de retirada de direitos sociais. Por conta disso, lembramos que, apesar do país estar atrasado na questão do acesso dos jovens à universidade, os governos Lula e Dilma dobraram de 9% para 18% o percentual de estudantes de até 24 anos egressos das camadas populares no ensino superior público e privado.
Agora, com a redução dos investimentos e reduções orçamentárias em Educação, todo esse ganho social está em risco. Por isso, ele afirma ser fundamental a mobilização da sociedade em defesa dessas conquistas. Apesar de ter dobrado o número de estudantes com acesso à universidade, ainda estamos atrás de muitos países latino-americanos e de algumas nações asiáticas, como a Coréia do Sul. Portanto, o diálogo da Universidade precisa se dar com os moradores de seu entorno, com os sindicatos, com os movimentos sociais, com os trabalhadores, com as escolas e as igrejas.
E é com esse objetivo que foi produzido o vídeo-documentário “The Coast of Opportunity”. Segundo o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, o filme estabelece claramente essa ponte da universidade com os setores populares, pois mostra os alunos que estão tendo essa oportunidade de crescimento e de busca da melhoria da qualidade de suas vidas. E principalmente na Baixada Fluminense, uma região marcada pela exclusão social e pela injustiça, surge uma universidade pública como o IM da UFRRJ, que rompe com essa lógica predominante. O filme mostra essa experiência de nossa parceria com a Duke University, com resultados positivos desses alunos que conquistaram o direito de estudar numa universidade pública e de qualidade e de suas famílias, que lutaram por essa conquista junto com eles.
Depois, quem fez uso da palavra foi a professora e antropóloga Kátya Wesolowski, da Duke University. Ela ressaltou que a Educação é fundamental, para qualquer sociedade que busque o desenvolvimento. A expansão do ensino superior, segundo ela, precisa estar voltada para as áreas carentes, como a Baixada Fluminense, onde não existe uma Educação de qualidade e que propicie um avanço social para as comunidades.
O Professor John French destacou em seu pronunciamento o sucesso da parceria Duke/UFRRJ, onde os estudantes daqui foram até a universidade americana e os de lá vieram até aqui, intercambiando informações e tomando conhecimento das duas realidades distintas.
Antes da exibição do filme, o rapper Dudu do Morro Agudo foi o último a dar seu depoimento. Ele falou sobre sua parceria com a Rural, que já vem de longo tempo e o filme foi o resultado de entrevistas que foram sendo feitas com estudantes e seus familiares, contando suas histórias de lutas e dificuldades para chegar até o ensino superior público. Dudu contou que trabalha com crianças e adolescentes e que, na maioria dos casos, não há possibilidade de cursarem uma universidade. Em sua grande maioria, os jovens cursam apenas o 2º grau, dando por concluída sua vida escolar. A partir daí, resolveu investir na busca do incentivo e o filme produzido com a aluna Stephanie Reist foi uma ferramenta que despertou o interesse nas crianças e jovens da periferia. Em todo o lugar onde é convidado a fazer palestra, Dudu do Morro Agudo exibe “The Coast of Opportunity” e isso tem mostrado ser possível estimular a busca por uma qualidade de vida melhor, através do estudo.
Por Ricardo Portugal – Assessoria de Imprensa do IM/UFRRJ