Pesquisa do Instituto Multidisciplinar (IM/UFRRJ) aponta que municípios da Baixada não investem no uso da bicicleta como alternativa de mobilidade urbana.
Por Matheus Almeida de Brito Oliveira
Nas cidades com transporte público deficiente, a alternativa mais utilizada é o transporte individual, o que significa mais carros nas ruas, vias ruins, e queda na qualidade de vida dos cidadãos. Os veículos particulares são responsáveis por 90% da poluição do ar. A dinâmica das cidades e o fator socioeconômico muitas vezes nos impõem a adoção desse sistema. Mas seria essa a melhor alternativa? A bicicleta tem sido uma boa resposta para resolver a circulação mais rápida e com mais benefícios à saúde.
A magrelinha na Baixada
Considerada por muitos apenas para o lazer, o uso da “magrela” no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, vai muito além. Ela é usada como meio complementar ou mesmo suplementar ao ônibus e ao trem, quando o cidadão se desloca no trajeto casa-trabalho e trabalho-casa, além de servir de comércio, transporte escolar e para ir às compras.
Fruto de um estudo sobre mobilidade urbana, a investigação “Cidade de ciclistas, mas não para ciclistas: a bicicleta como meio de transporte nos bairros de Comendador Soares e Austin em Nova Iguaçu-RJ” foi apresentada na Jornada de Iniciação Científica da UFRRJ, no ano passado. Os estudantes Djalma Navarro dos Santos, Filipe Emanuel da Silva e Flávia da Silva Souza, do Instituto Multidisciplinar (IM/UFR-RJ), em Nova Iguaçu, levaram um ano para concluir o trabalho, entre projeto, pesquisa e campo. Membros do Petgeo (Programa de Educação Tutorial) do IM, os alunos tiveram a tutoria da professora de Geografia Anita Loureiro Oliveira. O trabalho compôs o livro escrito pelo grupo, intitulado “Ações culturais e a cidade”.
A ideia para o trabalho surgiu de suas próprias experiências como moradores, ao observarem a região onde vivem. O campo de estudo dos universitários foi os bairros de Comendador Soares e Austin, dois dos mais populosos e complexos territorialmente. O trânsito caótico na Via Light e em outras vias expressas no entorno da cidade poderia ser resolvido se houvesse políticas públicas eficientes para a adesão da bicicleta como meio de transporte, de acordo com as informações levantadas pelos estudantes. “O que falta é vontade política em reestruturar as políticas públicas de mobilidade urbana, vide São Paulo, que não vai dar continuidade (às iniciativas existentes) devido aos projetos voltados para os carros”, disse Djalma.
Além disso, os poucos espaços disponíveis para sua circulação são precários, falta sinalização e a infraestrutura é deficiente. As ciclovias acabam sendo ocupadas por pedestres, o que impede muitas vezes que os ciclistas trafeguem livremente. E se aventurar no meio da pista, nem pensar. Não há respeito por quem anda de bicicleta, em nenhum horário. “A não adesão se dá principalmente pelo receio das pessoas em estar em meio ao transito, e também pela falta de uma estrutura pensada, que interligue os meios de transporte mais convencionais com a bike”, contou Filipe.
Uma das vantagens da bicicleta nessa competição desigual em relação ao tempo é poder criar as próprias rotas. O trajeto que um ônibus faz em 1h28min, ela pode fazer em 48min.
Os bairros de Comendador Soares e Austin estão em desacordo com o Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que regimenta ações para o uso da bicicleta. Nem a prefeitura da cidade e nem a SuperVia investem sequer na modernização e ampliação do espaço dos bicicletários, e a população precisa pagar pela guarda do veículo em espaços privados.
Ideias pelo mundo
Diversos estudos e pesquisas sobre os reflexos da utilização da bicicleta, como a dos estudantes do IM, surgem ao redor do mundo. O modal rodoviário, principalmente, está saturado e os índices de poluição do ar são muito altos. As autoridades globais perceberam isso, e investem na adesão deste meio de transporte. Algumas iniciativas são bem interessantes. O site dinamarquês Kopenhagenize ranqueou em 2011 os países “amigos” da bicicleta. Embora a maioria se concentre em países desenvolvidos, Bogotá, na América do Sul, aparece em vigésimo lugar na lista, onde os espaços para circulação das bicicletas são adequados e o ciclista é respeitado.
A capital da Dinamarca, é referência absoluta no uso da bicicleta. Possui um sistema que a integra com ônibus e metrô. Lá, no ano passado, o governo publicou um levantamento em que (acredite!) 62% da população faz o trajeto para o trabalho ou instituição de ensino de bicicleta, 21% utiliza transporte público e apenas 9% anda de carro nessas ocasiões. Os dados são confirmados através de todas as campanhas de conscientização feitas na cidade, oferecendo locais apropriados para guarda das bicicletas e com regulamentações.
Leia no Rural Semanal 09.2017 a reportagem completa (“Barata, sustentável e pouco explorada”, página 7): https://goo.gl/UdNFMm