Os alunos Handy Milliance e Mickenson Jean-Baptiste contaram um pouco sobre a história e cultura Haiti (Foto: Camile Cortezini/Assessoria Prograd)
O PET/Conexões de Saberes – “Dialogando e Interagindo com Múltiplas Realidades e Saberes na Baixada Fluminense/RJ” promoveu na última semana (de 19 a 23 de setembro), a 5ª Semana da Baixada Fluminense: “Movimentos e Intervenções Culturais na Baixada”. O evento, que é de extensão, visou o fortalecimento acadêmico, cultural e político, principalmente, do estudante de origem popular, afrodescendentes e de baixa renda a partir do desenvolvimento de atividades culturais, acadêmicas e científicas.
Na terça-feira (20), o tutor do “PET Baixada”, Otair de Oliveira, foi quem abriu o evento explicando aos presentes um pouco mais sobre o programa e a importância da Semana da Baixada na Universidade:
“Nosso objetivo em realizar um evento como este é de aproximar os mundos, tanto o da academia quanto o da cultura. Este é um espaço de interlocução e de interação com diferentes sujeitos e protagonistas da produção do conhecimento e da cultura da Baixada Fluminense”.
Professor Otair de Oliveira, tutor do “PET Baixada” abriu a palestra falando sobre a importância da Semana da Baixada (Foto: Ana Beatriz Paiva/Assessoria Prograd)
Na programação da 5ª Semana da Baixada foram realizadas diversas atividades. Dentre elas, rodas de conversas, apresentações artísticas e culturais de dança e poesia, palestras e diversas oficinas - que contaram desde a história da ditadura na baixada -, apresentação de hip-hop, funk, jongo e outras atividades voltadas para a cultura afro.
Conhecendo o Haiti
Para contar um pouco sobre o Haiti, os alunos Handy Milliance e Mickenson Jean-Baptiste, foram os palestrantes convidados na manhã da terça-feira (20). Alunos de Ciência da Computação e de Ciências Econômicas, respectivamente, Handy e Mick, como são carinhosamente conhecidos, são alunos da Rural, de nacionalidade haitiana, que vieram ao Brasil para aprender uma nova cultura e buscar conhecimento. Durante a palestra, eles aproveitaram o espaço para ensinar. Os dois contaram a história do Haiti desde sua colonização pela França. Falaram da bandeira, da geografia do país, da língua, das riquezas naturais, da cultura e religião.
Diferente da forma que nos é apresentado pela mídia tradicional, Mick e Handy apresentaram o Haiti como quem fala de sua própria casa. Isso fez com que os presentes pudessem se aproximar daquela realidade sob uma nova perspectiva.
Mick comentou sobre a existência duas línguas oficiais no Haiti: o crioulo, que é a língua popular falada e o Francês, ensinada nas universidades. Ele explicou que nem todos tem acesso ao francês, pois se trata de uma língua elitizada. Sobre a religião, os nativos explicaram que o cristianismo é a religião oficial do país, mas que o verdadeiro haitiano deve reconhecer o vodu - prática religiosa de origem africana - como sua crença materna.
Mickenson e Handy falam sobre o Haiti em uma perspectiva diferente de como é apresentado pela mídia (Foto: Camile Cortezini/Assessoria Prograd)
“O vodu pra gente conta muito, muito mesmo. Vodu significa proteger a natureza. O haitiano puro, de sangue, se reconhece nessa religião. Quem o ignora, ignora as lutas, a sua história, a sua própria origem”, contou Mick.
Ao falar das comidas típicas do país, os haitianos explicaram que a diferença está no modo de preparo.
“Lá nós comemos muito peixe e banana, só que ela é cozida, com ovo ou com molho de peixe, às vezes. Alguns tipos de comida você vê só em festa, outras são exclusivas para visitas, como o arroz com feijão misturado, por exemplo. Lá o abacate é servido apenas como comida, e não como vitamina como vocês fazem aqui. Eu não gosto de vitamina de abacate, é muito estranho para mim” (risos), comentou Mick.
Ele também contou sobre os costumes, as datas comemorativas, os monumentos históricos e as riquezas naturais. E explicou como a mídia insiste em mostrar apenas o lado negativo do Haiti.
“Existem muitas belezas em nosso país que a mídia não mostra. A mídia fala só do terremoto, mas nosso país é muito mais do que isso. O mar do Caribe é uma de nossas principais belezas. Mas essas áreas turísticas ficam mais distantes. Para curtir uma praia e um solzinho legal você precisa fazer uma viagem. Se você não souber o que tem de bom em seu país, você não sabe o que o representa”, finalizou.
Ao término da apresentação, os estudantes haitianos puderam responder às perguntas e muitos dos que acompanhavam o evento se manifestaram interessados por um Haiti totalmente diferente do que conheciam até então.
Feira Ubuntu
Feira Ubuntu valoriza a cultura afrodescendente através de seus produtos e ocorre em diversos lugares da Baixada Fluminense (Foto: Camile Cortezini/Assessoria Prograd)
Além de toda programação, quem passou pela 5ª Semana da Baixada ainda pode conferir a Feira Ubuntu de Afroempreendedores, que esteve com exposição no evento entre os dias 20 e 23 de setembro de 11h as 20h, com muitas roupas, acessórios, corte à seco, produtos orgânicos para cabelo crespo, trancista e consultoria capilar. A idealizadora da feira, Carla Cavallieri, conta que a necessidade nasceu a partir da dificuldade de encontrar na região produtos que valorizassem a cultura afro e que o objetivo da feira é atender principalmente a área da Baixada Fluminense. Quem tiver interesse, pode conferir a Feira de afroempreendedores que ela fica em exposição uma vez por mês na Casa de Cultura de Nova Iguaçu.
Por Ana Beatriz Paiva e Camile Cortezini