Os dias 17, 18 e 19 de julho marcaram história para o curso de Jornalismo da Rural. Jaqueline Suarez e Luís Henrick Teixeira representaram nossa Universidade no 21º Congresso de Ciências da Comunicação da Região Sudeste e voltaram para casa trazendo os dois primeiros prêmios acadêmicos do curso: o de melhor revista laboratório – com a Contraponto – e melhor reportagem impressa – “Para sempre mães de anjo”.
Ambos os projetos tiveram que passar, num primeiro momento, por uma seletiva interna. A Universidade precisou indicar apenas um representante para que este pudesse se inscrever na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom). E os dois projetos da UFRRJ foram aprovados pela seletiva regional. Os ruralinos comentaram que, só por estarem entre os cinco melhores das categorias revista e reportagem impressa, já estavam satisfeitos. Mas eles foram além. Não ganharam apenas em uma categoria, como trouxeram dois canecos para Universidade. Para mostrar, de uma vez por todas, que tem jornalismo na Rural.
– A gente só queria ser selecionado, estar lá já era muito importante. A seletiva do Sudeste é a mais difícil, foram mais de 600 trabalhos inscritos. Ter uma das revistas entre as cinco do Sudeste já era muita coisa. O que acontece é que a gente tem muito medo do que os outros produzem, de nós não estarmos à altura. Acreditamos que eles são bichos papões; e a gente descobriu que também é bicho papão. A gente disputou de igual para igual. Até então, a Rural só tinha se inscrito uma vez e não tinha ganhado. Agora, a gente se inscreveu com dois produtos e ganhou com os dois. É muito mais do que a gente podia sonhar – relatou Jaqueline Suarez.
A revista Contraponto, na verdade, foi desenvolvida por quatro alunos de Jornalismo da UFRRJ – Agatha Gabriela, Jaqueline Suarez, Larissa Bozi e Luís Henrick Teixeira. Juntos, eles queriam mostrar o Rio de Janeiro sob outra perspectiva, desfocando o olhar sobre a Zona Sul, e apresentando histórias de moradores de outros bairros da cidade que são tão importantes quanto aqueles glamuralizados pela grande mídia. Aliás, esse era o grande objetivo: ser uma alternativa à mídia comercial, ser um contraponto.
No editorial da revista os alunos escreveram: “Na medida em que a cidade se torna pauta dos principais jornais do mundo, fica evidente o reducionismo presente nas coberturas quando a mesma é tema. O Rio surge sempre como a cidade maravilhosa reduzida à orla da Zona Sul ou aos problemas de segurança pública, transporte e educação. É preciso de um Contraponto. O Rio de Janeiro é mais”.
Contraponto à mídia tradicional
Dessa maneira, a revista trouxe um olhar humanizado sobre o a cidade do Rio. Suas reportagens abordaram histórias de moradores de rua, de uma mãe que perdeu seus filhos para o tráfico, o cotidiano das “prostitutas”, entre outros. Para Ágatha Gabriela, a experiência de produzir a Contraponto foi humana e emocionante.
– A gente está acostumado a dor voz às pessoas, mas dessa vez a gente pensou: vamos dar ouvido. Eu, particularmente, tive duas experiências muito fortes. Uma foi quando acompanhamos moradores de rua. Eu me emociono fácil, então chorava porque a realidade é muito dura e a gente tentou expressar isso na revista. A outra foi a reportagem sobre as mães de Realengo e foi uma experiência muito forte a oportunidade de falar com essas mães muito emocionadas, falar com os meninos que sobreviveram. Estar naquela ambiente foi difícil, mas conseguimos passar isso para revista – relatou a estudante.
A baiana Larissa Bozi foi a responsável pelas artes da revista (todas as edições das imagens, os desenhos, ilustrações e fotorreportagens). Para ela, o projeto foi à porta de entrada para conhecer um Rio de Janeiro que nunca imaginou.
– Foi uma experiência gratificante, porque você aprende novas coisas. Eu entrei em contato com diversos mundos, porque o enfoque da revista era esse: a história das pessoas. É o contato com as outras pessoas que te enriquece tanto profissionalmente como pessoalmente. Eu fui com a Jaqueline até a favela do Acari para entrevistar a mãe que perdeu dois filhos para o tráfico. Foi muito enriquecedor, principalmente porque eu sou da Bahia e nunca tive contato com o Rio de Janeiro assim. A primeira vez que vim para o Rio foi para estudar – contou a baiana com alma de carioca.
A Contraponto foi desenvolvida no segundo semestre de 2015, em função da disciplina Planejamento Editorial. Os alunos tiveram que montar desde o tema da revista e seu gênero, até produzir as pautas, apurá-las e diagramá-las. Detalhe: sem qualquer aparato técnico ou laboratório. A orientadora, Ivana Barreto, contou que mesmo com essas dificuldades os estudantes produziram trabalhos de qualidade e que, agora, foram merecidamente contemplados com o prêmio.
– Como professora-orientadora, eu me sinto muito feliz e recompensada por um trabalho que foi realizado com muita determinação pelos alunos, mas também enfrentando várias dificuldades, que são as mesmas dificuldades que o curso de Jornalismo enfrenta. Em varias ocasiões, os alunos precisaram de suporte técnico e, infelizmente, a coordenação não tinha condições de oferecer. Apesar disso, os alunos que formaram esse grupo, desde o inicio, mostraram muita determinação e seriedade em relação à temática escolhida para a revista Contraponto. Abordaram suas matérias sempre com humanização, aspectos que a grande mídia, muitas vezes, praticamente ignora – comentou a docente.
Reconhecimento do trabalho
Além da Contraponto, a Rural também garantiu outro prêmio na Expocom 2016 pela reportagem “Para sempre mães de anjo”, escrita por Luís Henrick Teixeira. O estudante quis retratar o olhar das mães que perderam seus filhos na tragédia de Realengo, em 2011. A reportagem especial mostra um trabalho de apuração extremamente cuidadoso e contou com a colaboração de Tarcila Viana como fotógrafa.
– A ideia era contar na editoria memória um pouco a história de outra forma. No caso da tragédia de Realengo, a gente queria falar um pouco sobre a história das mães. Porque a história do assassino, do homem que atirou nas crianças foi muito contada pela grande mídia. A gente queria mostrar outro lado: como era a vida dessas mães e a luta delas hoje com a construção da ONG – explicou o graduando em Jornalismo pela Rural.
Luís e Jaqueline vão, em setembro, representar toda a região sudeste no Congresso Nacional de Ciências da Comunicação. É o Jornalismo da Rural mostrando a que veio.
– Eu acho que é um incentivo muito grande para que os alunos de Jornalismo possam, realmente, acreditar nos seus trabalhos. Eu acho que o principal é que a gente acredite e incentive o corpo docente também a levar os trabalhos ao Expocom. Foi incrível essa experiência e há muitos trabalhos bons no curso que não são levados. Acho que é muito importante que a gente leve esses trabalhos para que outras universidades possam conhecer, e que sejam reconhecidos a qualidade dos trabalhos do material que a gente faz aqui. O curso é novo, mas ele compete de igual para igual com cursos que tem mais de 50 anos, que são tradicionais. A gente tem capacidade, sim, para mostrar que tem Jornalismo na Rural – concluiu o ganhador do prêmio de melhor reportagem especial.
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Por Bruna Somma/CCS
Fotos: Beatriz Rodrigues/CCS