O câmpus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) foi palco de um debate fundamental para o futuro de Seropédica na última segunda-feira (29/09). A pauta central foi o projeto do governo do estado do Rio de Janeiro de instalar um novo complexo penitenciário no município, uma iniciativa que levanta sérias preocupações sobre seus impactos sociais, econômicos e urbanos.
O evento, organizado pelo Movimento Organizado Vozes Anticapitalistas em parceria com os coletivos Integraliza e Tudo numa coisa só, destacou o papel da UFRRJ como um espaço de diálogo crítico e de defesa de um modelo de desenvolvimento baseado no conhecimento. A Universidade e os representantes da sociedade civil presentes ao encontro defendem que o projeto colide frontalmente com a vocação da cidade como polo de conhecimento e tecnologia.
A mesa de debate contou com a mediação da estudante de Economia Gabrielly Scardua e a representação da comunidade ruralina, o pró-reitor adjunto de Extensão e representante da Administração Central da UFRRJ, professor Marcos Pasche, o professor José Claudio Alves, e os doutorandos e organizadores do evento Wilians Douglas e Jefferson Vinco, o representante da Associação de Pós-Graduandos, José Fernando, e os sindicatos SINTUR-RJ e ADUR-RJ, representados por Maurício Marins e Liz Paiva, respectivamente. A presença do deputado estadual Yuri Moura e da sociedade civil organizada demonstrou a relevância do tema para além dos muros da Universidade.
Durante as discussões, os participantes foram unânimes em questionar a lógica de instalar uma estrutura de encarceramento em uma cidade com clara vocação para a ciência e tecnologia. “É impossível pensar numa cidade universitária, pensar o bem econômico e o combate à pobreza planejando a construção de um sistema prisional”, afirmou o professor Jefferson Vinco, expressando a frustração de debater a instalação de presídios em vez de polos tecnológicos.
Nesse sentido, o morador de Seropédica, doutorando da UFRRJ e líder do Coletivo Integraliza, Wilians Douglas, apontou que “esse debate é fundamental, porque hoje a gente está falando de uma integração do debate entre a universidade e movimentos organizados”. Entendendo as oportunidades ímpares de desenvolvimento que o município de Seropédica possui por meio de uma rede de colaboração entre as diversas instituições que compõem a cidade, como a Embrapa, ICMBio, Cedae e a própria UFRRJ, através de seus diversos projetos científicos, mas em especial o Parque Ecotecnológico que pode trazer uma rede de empresas, startups e fintechs, Douglas argumenta que “devemos pensar na cidade para além de um depósito de problemas. É preciso pensar nesta cidade como uma potência tecnológica e ambiental”, defendeu.
Falta de transparência no processo
O ponto mais contundente do debate foi a apresentação de informações que questionam a transparência do governo do estado. O pró-reitor adjunto de Extensão Marcos Pasche, representando a Administração Central da UFRRJ, mencionou documentos que contradizem a nota oficial da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap-RJ).
Enquanto a Seap informava à imprensa que os estudos para um novo presídio não tinham local definido e teria um amplo debate público, o professor Pasche revelou a existência de uma ata de reunião da Seap com a Empresa de Obras Públicas do Estado (EMOP), na qual já se discutiam detalhes técnicos para a “unidade de Seropédica”.
A constatação de que o projeto avança nos bastidores, à revelia da população e das leis municipais, foi o que moveu o debate e catalisou reações tanto da sociedade civil organizada quanto do Poder Legislativo local e da Universidade.
Texto e fotos: João Vitor Carvalho de Freitas, jornalista e bolsista de Comunicação da CCS